Os Oscars são os prémios por excelência do Cinema, considerando-se estes como os guias da qualidade cinematográfica, apesar de nem sempre o serem. A verdade é que as obras premiadas são maioritariamente norte-americanas, sendo que muitos dos votantes também são norte-americanos, por isso talvez não seja assim tão generalizado. De qualquer forma, os Oscars têm uma história de galardões e de premiados assinalável, razão suficiente para que milhões acompanhem a gala em directo.
Aliás, mais do que a entrega de prémios propriamente dita, estou particularmente curiosa para saber como vai ser a cerimónia. Já confirmados estão: a presença de Adele (que vai interpretar, pela primeira vez, ao vivo o tema "Skyfall") e vários momentos dedicados aos musicais, com parte do elenco de Os Miseráveis a cantar na gala. Além disso, irá haver um tributo aos filmes de James Bond, que completam agora os 50 anos. Ficam agora as minhas previsões para algumas das categorias, diferenciadas por aqueles que penso que vão ganhar e os que mereceriam realmente vencer a estatueta (por vezes, é diferente).
Penso que as dúvidas persistirão entre A Vida de Pi e Lincoln, apesar do bom trabalho realizado em Django Libertado. A fotografia de Lincoln é mais obscura e sombria, resultando talvez em menos apelo visual, o que não significa, de todo, melhor qualidade. Mas penso que esta será uma categoria que terá A Vida de Pi como vencedor. O retrato da Índia e dos longos momentos passados em alto-mar são de uma beleza única e deslumbrante. Contudo, caso Lincoln vença, não é nada mal atribuído.
São todas boas histórias (exceptuando talvez Bestas do Sul Selvagem, pois considero o argumento pouco motivante), contadas de uma excelente forma. Guia para um Final Feliz talvez esteja mais próximo de vencer nesta categoria, devido à capacidade que David O. Russell teve em conseguir transformar uma mera história romântica em algo interessante, reflexivo, que emociona sem lacrimejar. O argumento de Lincoln é muito pormenorizado e, por vezes, um pouco enfadonho, tornando-o, assim, porventura, menos merecedor do prémio. A Vida de Pi é uma história rica e complexa, mas penso que não seja o grande trunfo do filme. Argo pode ser também um concorrente a ter em conta, já que consegue fazer um bom retrato histórico, mas de forma contextualizada, sem ser entediante.
Espero que aqui não haja muitas dúvidas na hora de atribuir o prémio e que este vá direitinho para Quentin Tarantino e o seu brilhante Django Libertado. A obra é genial, quase surreal, mas divertida e inquietante, própria da obra do realizador e argumentista norte-americano. Ainda assim, no lote de nomeados, há que valorizar também Moonrise Kingdom, uma belíssima história de amor juvenil, cheia de doçura e bravura (em doses quase semelhantes), e Amor, uma outra história de amor, mas numa diferente faixa etária, que se depara com outro tipo de obstáculos. 00:30 A Hora Negra é interessante, mas talvez precoce temporalmente, já que os acontecimentos são ainda muito recentes e à flor da pele, não se tendo apurado ainda o que é verdade ou não (e já que se trata de um filme que tem por base factos verídicos, este factor é importante). Não vi ainda Decisão de Risco, por isso não posso opinar sobre ele.
Nomeadas: Amy Adams (The Master - O Mentor), Sally Field (Lincoln), Anne Hathaway (Os Miseráveis), Helen Hunt (Seis Sessões) e Jacki Weaver (Guia para um Final Feliz).
Não pude ver ainda The Master - O Mentor, mas acredito que Amy Adams tenha feito um bom trabalho, como é apanágio na sua carreira, mas penso que ainda não é mesmo desta que leva o Oscar para casa. O prémio será atribuído, quase inevitavelmente, a Anne Hathaway (e merecidamente). A actriz tem uma participação até curta na obra, mas imensa na dimensão dramática que atribui à sua personagem, tornando-se inesquecível. Hathaway consegue cantar (bem) e imprimir, ao mesmo tempo, emoção e carisma numa interpretação inapagável. No lote de nomeadas, a única que penso que pode verdadeiramente competir com ela será porventura Helen Hunt, com um desempenho brilhante no filme Seis Sessões. Aliás, ainda não percebi a razão de estar nomeada nesta categoria e não na de Melhor Actriz. Hunt é um dos pontos fortes do filme, retratando de forma genuína e sem temores a sua personagem. Sally Field poderia ser também uma aposta, tendo tido uma boa interpretação em Lincoln, mas nada de transcendente. Jacki Weaver está nomeada porque sim, o seu papel em Guia para um Final Feliz é banal, menos importante que o da maioria do elenco.
Nomeados: Alan Arkin (Argo), Robert De Niro (Guia para um Final Feliz), Philip Seymour Hoffman (The Master - O Mentor), Tommy Lee Jones (Lincoln) e Christoph Waltz (Django Libertado).
Esta é uma das categorias mais competitivas nesta edição. Quando os nomeados são já todos oscarizados, fica difícil escolher. Alan Arkin fez um óptimo trabalho em Argo, sendo o melhor actor do filme. Ainda assim, penso que lhe falta força para competir com os restantes nomeados. Tommy Lee Jones tem um papel muito interessante e seguro em Lincoln, mas penso que também não chegue. Não vi o trabalho de Philip Seymour Hoffman, por isso não posso compará-lo com os restantes. Sobram, então, Robert De Niro e Christoph Waltz. Bem, De Niro tem mais uma bela interpretação (quase nem é possível de outra forma), conseguindo enriquecer um papel que talvez nem tivesse assim tanta dimensão, mas que o actor atribui uma outra complexidade. Brilhante, como sempre. Contudo, penso que talvez seja mais merecedor do Oscar, Christoph Waltz, que, apesar de estar nomeado nesta categoria, tem a grande personagem do filme, a mais icónica e rica, muito devido à performance artística do actor. Numa história fantástica como esta de Tarantino, Waltz conseguiu transpor a riqueza do seu texto para a beleza da sua interpretação e, se ganhar a estatueta dourada, será muito merecido.
Nomeadas: Jessica Chastain (00:30 A Hora Negra), Jennifer Lawrence (Guia para um Final Feliz), Emmanuelle Riva (Amor), Quvenzhané Wallis (Bestas do Sul Selvagem) e Naomi Watts (O Impossível).
Outra categoria competitiva difícil de prever. Podemos, talvez, retirar à partida, duas das concorrentes: Quvenzhané Wallis (demasiado novinha, mas a mostrar muita riqueza dramática e expressiva) e Naomi Watts, para ambas é já um prémio estarem nomeadas. Penso que a atribuição do prémio poderá oscilar entre as restantes, talvez mais inclinado para Emmanuelle Riva, mas com poucas certezas. Jessica Chastain esteve muito bem em 00:30 A Hora Negra, embora talvez perca algum crédito pelas polémicas em que o próprio filme tem estado envolvido. Não obstante, continuo a achar que ainda não se viu o melhor de Chastain (gostei muito mais de vê-la em As Serviçais, por exemplo). Jennifer Lawrence fez uma excelente interpretação da sua personagem problemática, dando-lhe uma outra vida e dinamismo. Uma surpresa artística, que provou que Lawrence pode fazer qualquer tipo de papel. Seria merecido se vencesse. Todavia, não deixo de apostar mais em Emmanuelle Riva, a actriz francesa que conseguiu criar uma pintura degradante da sua personagem, mostrando pelas palavras, gestos e expressões, tudo o que a personagem poderia estar a sentir. Uma mestra da representação.
Nomeados: Bradley Cooper (Guia para um Final Feliz), Daniel Day-Lewis (Lincoln), Hugh Jackman (Os Miseráveis), Joaquin Phoenix (The Master - O Mentor) e Denzel Washington (Decisão de Risco).
Sem poder falar de Phoenix e Washington, restam Cooper, Day-Lewis e Jackman. Bradley Cooper foi uma surpresa em Guia para um Final Feliz, conseguindo interpretar um papel difícil mostrando que pode fazer muito mais do que só comédia. Ainda assim, não deverá estar na "verdadeira" corrida. Hugh Jackman também não, pois apesar de ter sido um excelente protagonista de Os Miseráveis, falta-lhe ainda qualquer coisa, o que não acontece com o soberbo Daniel Day-Lewis. Aliás, não há muitas dúvidas que será ele o vencedor do Oscar. O actor foi fantástico em Lincoln, personificando o Presidente norte-americano.
Nomeados: Michael Haneke (Amor), Benh Zeitlin (Bestas do Sul Selvagem), Ang Lee (A Vida de Pi), Steven Spielberg (Lincoln) e David O. Russell (Guia para um Final Feliz).
Nesta categoria também não será fácil de adivinhar o vencedor. Ben Affleck tem vencido em quase todos os prémios, mas não está nomeado para os Oscars. Nem Tarantino, essa sim a grande ausência nesta categoria, que não se compreende. Michael Haneke e Benh Zeitlin têm realizações muito diferentes, o primeiro prefere planos fixos, enquanto o segundo opta pela câmara em constante movimento. David O. Russell tem a proeza de transformar uma comédia romântica num filme inspirador e profundo, o que não é para todos. Mas penso que as dúvidas recaem entre Ang Lee e Spielberg, mas com mais inclinação para o segundo. Lee fez um trabalho brilhante em A Vida de Pi, utilizando o 3D de forma exímia e exemplar, mas Spielberg retratou Lincoln de forma diferente, com mais importância para os diálogos, tornando-o num filme épico, sem deixar de ser intimista.
Mais uma categoria pouco clara quanto ao vencedor, mas penso que este será Argo ou Lincoln. Ambos enaltecem a capacidade humana americana, embora de formas muito diferentes. Todavia, os meus favoritos seriam Django Libertado e Guia para um Final Feliz. Creio que ambos conseguem fazer algo de novo no Cinema. Django Libertado é mais uma obra genial de Quentin Tarantino, impecável e única, e Guia para um Final Feliz inaugura um novo tipo de comédia romântica, menos superficial e lamechas. Destaco ainda A Vida de Pi, uma verdadeira experiência inesquecível, um filme que fica na memória e com um deslumbramento visual e reflexivo fantásticos.
Estas são as previsões. Agora só falta saber "and the oscar goes to...". Boa cerimónia e bons filmes!