My name is Jordan Belfort. The year I turned 26, I made 49 million dollars, which really pissed me off because it was three shy of a million a week.
Memorizem bem esta frase. Vai dar-vos jeito quando chegar o momento, no final de O Lobo de Wall Street (2013), de pensar no que acabaram de ver. Da loucura e da excentricidade de um milionário à decadência moral e pessoal de uma mesma corja de gente que tentou tocar o topo do mundo. Há disso e bem mais do que isso. É mais um grande filme de Martin Scorsese.
A história contada pelo cineasta nova-iorquino não é pródiga em surpresas nem grandes volte-faces. Aproveita-se a história de vida de Jordan Belfort, contada num livro escrito pelo próprio, e mergulha-se no lodo de Wall Street, o mundo financeiro norte-americano. Belfort é um corrector de bolsa em início de carreira que acaba por ter o azar - ou a sorte, se quisermos - de entrar no mundo da alta finança num dia em que a bolsa norte-americana igualou números históricos da Grande Depressão. A partir daí, Belfort fica com a ideia de querer singrar naquele mundo e segue o seu caminho rumo ao sucesso. A um grande sucesso.
Leonardo DiCaprio, o exímio intérprete de Jordan Belfort, com quem se cruza no final do filme, num dos pormenores mais interessantes de O Lobo de Wall Street. Foto: cinemagia.ro. |
Leonardo DiCaprio interpreta o protagonista e leva a história até aos níveis mais surreais que podemos imaginar. Durante as cerca de três horas de filme vemos um pouco de tudo (muito sexo, muitas drogas, muitas histórias que têm tanto de inacreditável como de inacreditavelmente verdadeiro) num registo de comédia negra. E se a realização de Scorsese é das coisas mais interessantes que se podem ver de 2013, DiCaprio dá uma aura de um quase misticismo ao seu Belfort. É curioso ver como o californiano parece ganhar uma espécie de onda cósmica ao longo deste filme, o que nos faz pensar que estamos a assistir a História do Cinema a fazer-se a ela mesma. Algo mágico e que é, sem dúvida, exponenciado pela realização do nosso velho Marty.
Há muito por onde olhar para O Lobo de Wall Street apesar da linearidade da história. Algo inerente, aliás, ao facto de se estar a contar uma história que tem tanto de previsível como de surreal. Nem todas as ideias colocadas no filme aconteceram, de facto, na vida de Belfort, mas, mais linha menos linha, a verdade está ali no meio. Diz quem conhece a real história de como tudo se passou que o filme não é assim tão distante da realidade.
Como muito bem se tem dito, Scorsese ficou sem os mafiosos de quem tanto gostava de retratar para ter como inspiração para os seus filmes e agora aproveitou esta outra "máfia", residente em Wall Street, para demonstrar a podridão da ganância e da obsessão pelo dinheiro de tanta e tanta gente. É, aliás, curioso olhar para este O Lobo de Wall Street - o melhor filme de Scorsese desde The Departed - Entre Inimigos (2006) (um dos meus filmes favoritos) - como a consequência disso mesmo. Um realizador com dois mundos tão distantes e tão aproximados, com duas interpretações da realidade tão diferentes e tão próximas ao mesmo tempo, só ao nível de um génio. E Scorsese não desilude.
Com um elenco de luxo, brilha toda a gente a um ritmo sempre muito alto, quase alucinante e alucinado. Depois da afirmação em Moneyball - Jogada de Risco (2011), Jonah Hill consegue aqui a sua afirmação enquanto actor adulto, fugindo do ar de miúdo que o tem acompanhado. Destaque também para a curta mas crucial participação de Matthew McConaughey - nomeado ao Óscar a competir com DiCaprio -, o regresso (10 anos depois ao Cinema) de Rob Reiner a grande nível ou as participações (especiais, acrescentaria) de nomes como Cristin Milioti (a ansiada Mãe de How I Met Your Mother), Jon Favreau, Jean Dujardin ou mesmo a bela Margot Robbie.
Scorsese não precisa propriamente de se reiventar para fazer grandes filmes em estilos e contextos diferentes. Desde Tudo Bons Rapazes (1990), Casino (1995) ou Gangs de Nova Iorque (2002), passando por O Aviador (2004), o mítico The Departed - Entre Inimigos ou o altamente interessante Shutter Island (2010), aproximou-se - em termos cronológicos - deste O Lobo de Wall Street com A Invenção de Hugo, em 2011. Há uma linha que une tudo isto e ela não é necessariamente lógica mas é genial. Torna-se difícil acreditar que o próximo de Scorsese não será nada menos do que um grande filme. Pelo menos assim parece, a ver pela jovialidade da loucura de O Lobo de Wall Street. Tanto na abordagem como no resultado final. Final esse que termina com um espelho: do que cada um de nós é e do que a carreira de Scorsese também será na História do Cinema.
Martin Scorsese, o obreiro de O Lobo de Wall Street. Foto: cinemagia.ro. |
Scorsese não precisa propriamente de se reiventar para fazer grandes filmes em estilos e contextos diferentes. Desde Tudo Bons Rapazes (1990), Casino (1995) ou Gangs de Nova Iorque (2002), passando por O Aviador (2004), o mítico The Departed - Entre Inimigos ou o altamente interessante Shutter Island (2010), aproximou-se - em termos cronológicos - deste O Lobo de Wall Street com A Invenção de Hugo, em 2011. Há uma linha que une tudo isto e ela não é necessariamente lógica mas é genial. Torna-se difícil acreditar que o próximo de Scorsese não será nada menos do que um grande filme. Pelo menos assim parece, a ver pela jovialidade da loucura de O Lobo de Wall Street. Tanto na abordagem como no resultado final. Final esse que termina com um espelho: do que cada um de nós é e do que a carreira de Scorsese também será na História do Cinema.