Dia de Oscars é também dia de expectativas, de esperar que aquele filme de que gostámos mais seja o grande vencedor da noite, ou que, pelo menos, ganhe alguns dos prémios mais relevantes. Dia de Oscars é também o dia de ir dormir depois das cinco da manhã. Porque a cerimónia, nos Estados Unidos, começa relativamente cedo mas cá, em Portugal, o início nunca acontece antes da uma da manhã.
Os prémios vão ser atribuídos, vai haver muita discussão, muitos textos escritos a apontar a injustiça de certas escolhas e outros a celebrar certas vitórias. É sempre assim e será sempre assim. É o problema de dar prémios ao que quer que seja. Quando não se ganha, critica-se o conceito e fica-se amuado com quem os atribui; para todos os outros, tem o valor que tem.
Os Oscars são os grandes prémios do cinema. Para o bem e para o mal são atribuídos nos Estados Unidos, por norte-americanos a norte-americanos (na generalidade, vá), em directo para todo o mundo porque, de facto, são - e repito-me - os grandes prémios do cinema. Nenhum actor, realizador, produtor, sonoplasta, maquilhador, etc., por muito bom que seja, não passa a ser mau se não for nomeado ou se nunca tiver ganhado qualquer Oscar.
Com este texto, pretendo apenas fazer as minhas previsões, apontando aqueles que penso virem a ser os vencedores de algumas categorias (as mais relevantes, com todo o respeito e consideração pelas outras), mas também dando um cunho pessoal à "previsão", isto é, dizendo quem seriam aqueles que, para mim, mais mereceriam o prémio. Vamos a isso. Boas leituras, bons filmes e boa cerimónia!
Sem ter visto um dos nomeados (Anna Karenina), creio não existirem muitas dúvidas quanto ao favoritismo de Lincoln e A Vida de Pi. Por norma, os filmes de Steven Spielberg, com Janusz Kaminski a cargo desta tarefa de embelezar as suas obras, têm uma fotografia fabulosa. Lincoln não foge à regra. A Vida de Pi, no que concerne às cores e "quadros" apresentados, é uma verdadeira viagem por imagens belas e muito bem conseguidas. Django Libertado também está muito bom e talvez levasse o meu voto, mas o vencedor deverá estar entre A Vida de Pi e Lincoln. Apesar das 11 nomeações do primeiro, as estatuetas a receber pela obra de Ang Lee não devem ser muitas, pelo que nesta categoria técnica, o Oscar deverá mesmo ir para a história do homem e do tigre.
Nesta categoria, uma agradável surpresa: Guia para um Final Feliz. David O. Russell, que também realizou o filme, adaptou de forma exímia esta história para o ambiente cinematográfico. Não será um choque se perder para A Vida de Pi ou Argo, mas, na minha opinião, talvez seja se perder para qualquer um dos outros. Lincoln perde por ser uma história demasiado longa e semi-centrada na vida familiar do histórico presidente norte-americano. Bestas do Sul Selvagem é o delírio criativo (a la Malick) do ano, não contando de modo algum para esta categoria.
Aqui, não podem existir dúvidas: Tarantino tem de levar o Oscar para casa por Django Libertado. Num hipotético segundo lugar, colocaria, apenas e só, e a alguma distância do primeiro e dos restantes para baixo, Moonrise Kingdom. Uma história algo surreal mas bastante bonita e muito bem conseguida, escrita, realizada e interpretada. Caberia à obra de Wes Anderson a menção honrosa desta categoria. Todos os outros nomeados estão a léguas destes dois.
Nomeadas: Amy Adams (The Master - O Mentor), Sally Field (Lincoln), Anne Hathaway (Os Miseráveis), Helen Hunt (Seis Sessões) e Jacki Weaver (Guia para um Final Feliz).
Apenas não vi The Master - O Mentor (uma falha algo grave relativamente à análise das categorias de interpretação individual), mas olhando para o que têm sido as entregas de prémios das últimas semanas, Anne Hathaway parte com favoritismo para este Oscar. Sally Field cumpre com grande qualidade mas não se destaca tanto como poderia, em grande parte devido à forma como o argumento de Lincoln está traçado. Jacki Weaver, não pondo em causa a nomeação, não passa disso mesmo, de uma "secundária" em Guia para um Final Feliz. Com reais hipóteses de disputar o prémio com Hathaway, apenas vejo Helen Hunt, com a sua belíssima performance em Seis Sessões, ao nível de uma actriz principal (uma surpresa estar nesta categoria e não nessa!). Estará bem entregue a Hunt ou Hathaway, mas Hunt levaria o meu voto.
Nomeados: Alan Arkin (Argo), Robert De Niro (Guia para um Final Feliz), Philip Seymour Hoffman (The Master - O Mentor), Tommy Lee Jones (Lincoln) e Christoph Waltz (Django Libertado).
A verdadeira categoria de peso dos Oscars deste ano. Não há ninguém que não merecesse o Oscar. Arkin vai muito bem em Argo, sendo, efectivamente, a única prestação individual de relevo no filme; De Niro cumpre inabalavelmente uma personagem nada fácil e que, dificilmente, poderia ter sido interpretada por qualquer outro com tamanha qualidade; e Tommy Lee Jones é a alma que acompanha o assombro de performance de Daniel Day-Lewis (já lá vamos) em Lincoln. (Falta Seymour Hoffman, bem sei, mas como já disse, não tive oportunidade de ver The Master - O Mentor). Ainda assim, o grande vencedor da noite deverá ser (com toda a justiça) Christoph Waltz, o maior génio interpretativo da mente de Quentin Tarantino. Se, em tempos, esse "papel" coube a Samuel L. Jackson, Uma Thurman ou Tim Roth, nos dias de hoje é Waltz quem melhor compreende e transpõe para as cenas o que vai na cabeça de Tarantino. Quase ao nível de um alter-ego do génio por detrás de Django Libertado.
Nomeados: Bradley Cooper (Guia para um Final Feliz), Daniel Day-Lewis (Lincoln), Hugh Jackman (Os Miseráveis), Joaquin Phoenix (The Master - O Mentor) e Denzel Washington (Decisão de Risco).
Falta-me o olhar sobre dois dos nomeados, é certo, mas, nesta categoria, há muitos meses que o vencedor é "conhecido". Será a surpresa da noite, certamente, se Daniel Day-Lewis não levar o Oscar para o Reino Unido. O actor britânico aproveitou um argumento altamente centrado na sua personagem e assente num reforçar da história e de cada cena a partir das palavras de Abraham Lincoln. Tal como havia dito na crítica, Day-Lewis está "excelente nos diálogos tornando Lincoln o centro das atenções como se se tratassem de monólogos". Será um prémio muito bem atribuído.
Nomeadas: Jessica Chastain (00:30 A Hora Negra), Jennifer Lawrence (Guia para um Final Feliz), Emmanuelle Riva (Amor), Quvenzhané Wallis (Bestas do Sul Selvagem) e Naomi Watts (O Impossível).
Provavelmente, uma das categorias menos consensuais e menos previsíveis. Excluindo Naomi Watts (a crítica escrita aqui no Metragens explica o porquê) e Quvenzhané Wallis (conseguiu uma boa performance em Bestas do Sul Selvagem, mas abaixo da concorrência), tanto Chastain como Lawrence e Riva têm sérias possibilidades de levar o Oscar. Os prémios têm-se dividido entre estas três actrizes e, nos Oscars, o "título" não deverá ir para ninguém fora deste sub-lote. Ainda assim, não vejo o trabalho de Riva a sobrepor-se ao de Lawrence, e o de Chastain a mostrar-se melhor do que o de ambas. Jennifer Lawrence, com uma personagem psicótica, sem filtros e livre de "regras", conseguiu um dos papéis do ano. Merece o Oscar, mas a vencedora talvez venha a ser Emmanuelle Riva.
Nomeados: Michael Haneke (Amor), Benh Zeitlin (Bestas do Sul Selvagem), Ang Lee (A Vida de Pi), Steven Spielberg (Lincoln) e David O. Russell (Guia para um Final Feliz).
Categoria de difícil decisão. Haneke e Zeitlin estão em extremos opostos quanto ao estilo de realização adoptado (a câmara, com Haneke, é estática e demasiado contemplativa; com Zeitlin é imparável e chega a ser irritante), encontrando-se, no meu entender, longe de conseguirem levar o Oscar. Quanto aos restantes, o prémio poderia ir para qualquer um que seria sempre bem entregue. Contudo, David O. Russell, num trabalho com menos riscos e no qual sobressaem o argumento e as performances dos actores, estará num patamar intermédio nesta categoria. Ficará a decisão, então, entre Ang Lee e Spielberg. O favoritismo vai, em vésperas de começar a cerimónia, para Spielberg. O meu voto iria para Lee mesmo sabendo que o "autor" de Lincoln deverá conseguir o Oscar. Menção honrosa para o, inexplicavelmente, ausente Quentin Tarantino. Tanto assim é que levaria o meu voto. Sem pensar duas vezes.
Categoria de difícil decisão. Haneke e Zeitlin estão em extremos opostos quanto ao estilo de realização adoptado (a câmara, com Haneke, é estática e demasiado contemplativa; com Zeitlin é imparável e chega a ser irritante), encontrando-se, no meu entender, longe de conseguirem levar o Oscar. Quanto aos restantes, o prémio poderia ir para qualquer um que seria sempre bem entregue. Contudo, David O. Russell, num trabalho com menos riscos e no qual sobressaem o argumento e as performances dos actores, estará num patamar intermédio nesta categoria. Ficará a decisão, então, entre Ang Lee e Spielberg. O favoritismo vai, em vésperas de começar a cerimónia, para Spielberg. O meu voto iria para Lee mesmo sabendo que o "autor" de Lincoln deverá conseguir o Oscar. Menção honrosa para o, inexplicavelmente, ausente Quentin Tarantino. Tanto assim é que levaria o meu voto. Sem pensar duas vezes.
Nomeados: Amor, Argo, Bestas do Sul Selvagem, Django Libertado, A Vida de Pi, Lincoln, Guia para um Final Feliz, 00:30 A Hora Negra e Os Miseráveis.
Desta lista de nove, alguns não merecem, no meu entender, tamanha consideração. Sem querer entrar na discussão do "então, quais entrariam para o lugar dos que não o merecem?!", excluiria Amor, Bestas do Sul Selvagem e Os Miseráveis. O primeiro porque, para mim, conta uma história forte mas deixa muito a desejar em termos de resultado final; o trabalho de Zeitlin porque, com tanta pretensão de fazer diferente e de entrar por caminhos pouco óbvios, a mensagem a contar perde-se por caminhos pouco compreensíveis; e o "musical do ano" porque é um filme fraco praticamente a todos os níveis - quase incompreensível como chega a esta lista. Poder-se-ia pensar que, por consequência, o prémio estaria para ser entregue a qualquer um dos outros seis. Não tanto. Os especialistas apontam para Argo ou Lincoln. Atendendo àquilo que tem sido a tendência de outros prémios, o filme de Ben Affleck deverá ser o grande vencedor da noite. O meu voto iria para Django Libertado, aquele que, sem sombra de dúvidas, se sobrepõe a qualquer outro dos nomeados. Dentre os dois favoritos, votaria em Argo mas à frente de ambos deixaria Guia para um Final Feliz. A surpresa do ano, em termos de conceito e de concretização, merecia um prémio especial.
E bom, assim se chega ao fim de um (longo) artigo de previsões para os mais importantes prémios do cinema. Uma boa cerimónia a todos (se possível, acompanhem no Metragens) e bons filmes!
E bom, assim se chega ao fim de um (longo) artigo de previsões para os mais importantes prémios do cinema. Uma boa cerimónia a todos (se possível, acompanhem no Metragens) e bons filmes!