Um filme de ficção científica profundo e imersivo, O Primeiro Encontro (2016) mergulha nas limitações inexoráveis da comunicação e no quão importante ela pode revelar-se. Baseada no conto “Story of Your Life”, de Ted Chiang, a narrativa arranca quando, num dia aparentemente normal, naves especiais aterram em vários locais da Terra. Rapidamente é formada uma equipa de elite para investigar esta misteriosa visita e Louise Banks (Amy Adams), uma especialista em linguística, lidera as tentativas de conseguir comunicar com aqueles seres e acalmar uma população mundial apavorada, numa verdadeira corrida contra – e com – o tempo.
Amy Adams em O Primeiro Encontro. Foto: Indie Wire. |
O género de ficção científica é-nos, muitas vezes, enganosamente transmitido como muito próximo do disaster movie. Mas a verdade é que não é preciso que assim seja. Desta forma, é refrescante que O Primeiro Encontro nos ofereça uma outra leitura, muito mais focalizada e minuciosa. Aqui, o principal tema abordado é a falta de comunicação, que afugenta o significado e encaminha para tantos erros, numa metáfora para os tempos em que vivemos. Denis Villeneuve apodera-se desta premissa e consegue construir um filme que enredeia, num drama de ritmo pausado, que deixa respirar a narrativa. A poderosa banda-sonora de Jóhann Jóhannsson contribui, em grande parte, para aumentar o ambiente claustrofóbico e tenso que preenche a obra.
Amy Adams apresenta-nos uma das suas personagens mais frágeis e sensíveis, numa interpretação exemplar da atriz norte-americana, que assume com segurança o total protagonismo do filme. Jeremy Renner e Forest Whitaker não conseguem ter grande espaço para se evidenciar, já que os seus personagens são muito pouco expansivos e trabalhados.
Villeneuve é um dos mais profícuos realizadores em atividade na Hollywood atual, desenvolvendo temas distintos mas conseguindo sempre prender o espectador pela forma como transporta para o grande ecrã histórias cheias de significância e este filme é a prova de que está mais do que preparado para voos mais ambiciosos, aumentando as expectativas para a sequela de Blade Runner: Perigo Iminente (1982), Blade Runner 2049. O Primeiro Encontro é ficção científica em estado puro, numa história sem espaço para a previsibilidade e que, decerto, deixará o espectador a pensar.
(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis)