Florence, Uma Diva Fora de Tom (2016) pode não acertar nas notas todas, mas apresenta-nos uma atriz que nos agarra do início ao fim. A obra baseia-se na história real de Florence Foster Jenkins (Meryl Streep), uma dama de sociedade que adorava cantar e tinha o sonho de pisar o palco do Carnegie Hall, apesar de não ter muito talento para tal. Protegida pelo marido, St Clair Bayfield (Hugh Grant), Florence não desconfia da sua falta de aptidão vocal… mas até quando?
Stephen Frears é já muito experiente na realização de biopics, numa carreira que teve como expoente A Rainha (2006), protagonizado pela Dama Helen Mirren. Tal como no retrato biográfico da Rainha de Inglaterra, Frears deixa brilhar a sua musa, no caso, Meryl Streep – e é o melhor que faz. O filme vive sobretudo dos atores, do fantástico trio formado por Streep, Hugh Grant (um galã que já estava há demasiado tempo afastado do grande ecrã e que tem aqui um papel fulgente) e Simon Helberg, o pianista de Florence, que nos faz esquecer por completo o Howard de A Teoria de Big Bang, mostrando-nos um potencial pouco explorado. A química entre os três é o melhor do filme, mas a atriz norte-americana reina em toda a linha. Versátil, incrivelmente expressiva, magistral… as palavras escasseiam quando se fala de Meryl Streep e esta é uma das interpretações em que se prova isso mesmo, em que a atriz humaniza a personagem e lhe dá uma maior dimensão dramática.
Nem sempre inspirado, Florence, Uma Diva Fora de Tom joga sempre pelo seguro. A banda-sonora de Alexandre Desplat envolve-nos, bem como a irrepreensível produção cénica e de guarda-roupa, que nos transporta crivelmente para a Nova Iorque dos anos 1940. A obra não figurará como um dos melhores biopics da filmografia recente, mas decerto nos lembraremos de Meryl Streep e de como só ela conseguiria acertar ao desacertar.
Meryl Streep em Florence, Uma Diva Fora de Tom. Foto: cine.gr. |
(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis e na edição nº 42, de setembro de 2016, da revista Metropolis)