Eis um filme com uma premissa irreverente, que se inicia com moldes de comédia mas que vai perdendo a graça ao longo da narrativa, abrindo azo a uma maior profundidade dramática, algo inesperada. Hanna (Vimala Pons) tem 30 anos e tem um pequeno grande problema: sofre da “doença da gentileza”, ou seja, não sabe dizer que não e não consegue magoar os outros. O “merceeiro social” Omar (Ramzy Bedia) e a “psicóloga ao domicílio” Simone (Agnès Jaoui), os pais de Hanna, sofrem do mesmo. A situação difere quando se trata do seu irmão Hakim (Mehdi Djaadi), de quem Hanna se tem vindo a afastar ao longo da vida. Ao contrário do resto da família, ele é muito focado nas suas raízes argelinas e na religião muçulmana. Todavia, um dia, algo imprevisto irá forçar o reencontro entre os dois irmãos desavindos.
Inicialmente, Espera aí que já te atendo! (2015) parece uma comédia banal, pegando numa premissa simples que enreda desde logo. O argumento poderia continuar nesse mesmo caminho ou divergir e encaminhar-se noutro sentido, o que acaba por acontecer e, em alguns momentos, parece ser a opção acertada. Contudo, a seriedade ganha demasiado relevo e parece-nos que o filme vai perdendo a sua identidade, não sendo nem carne nem peixe. Não podemos, porém, deixar de assinalar a realização cuidada de Baya Kasmi e o seu cuidado no tratamento das personagens, sempre sem julgamento. Os atores fazem o mesmo e Vimala Pons surpreende com o seu carisma, sendo muito bem-sucedida na composição pouco fácil da sua personagem.
Imagem de Espera aí que já te atendo!. Foto: cine.gr. |
(Crítica originalmente publicada na edição de novembro de 2015 da revista Metropolis)