«Capitão América: Guerra Civil»

Entretenimento non-stop, narrativa bem articulada e uma boa dose de humor à mistura: estes são os principais ingredientes de Capitão América: Guerra Civil (2016), que transporta para outra atmosfera sem se perder no raciocínio. O filme opõe dos dois principais heróis Marvel: Capitão América (Chris Evans) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.). Outrora amigos, viram inimigos, quando se coloca uma questão fundamental: os super-heróis devem ou não ter supervisão governamental? Os dois divergem na resposta, tal como outros heróis, formando-se, paulatinamente, dois lados de uma guerra sem precedentes no Universo Cinematográfico Marvel. 

Recheado de excelentes sequências de ação, o filme mostra que, acima de tudo, os irmãos Russo sabem contar uma boa história. O encadeamento da narrativa vai-se construindo pouco a pouco, dando tempo ao próprio espectador de formar a sua opinião sobre a génese do conflito. A obra segue por completo a linha estilística traçada em Capitão América: O Soldado do Inverno (2014), com menos iridescência do que em Vingadores: A Era de Ultron (2015, crítica aqui) e um ambiente com mais suspense, o que só engrandece o resultado final. A obra não se perde em si mesma com o evoluir do conflito e com o momento épico em que os super-heróis se confrontam entre si, tal como aconteceu com o recente Batman vs Super-Homem: O Despertar da Justiça (2016, crítica aqui).

Chris Evans e Robert Downey Jr. em Capitão América: Guerra Civil. Foto: Out Now.
Além disso, num filme com tantas personagens, é importante realçar que cada um vai tendo o seu destaque próprio, com uma boa composição individual. Os verdadeiros protagonistas são Capitão América e Homem de Ferro, que crescem na narrativa em harmonia com o que tem vindo a ser retratado no Universo Cinematográfico e demonstram, uma vez mais, uma excelente química em cena. É claro que gostaríamos de ver um maior desenvolvimento de algumas personagens, sobretudo Feiticeira Escarlate e Visão, mas há um bom equilíbrio neste desfile de super-heróis, aos quais se acrescentam o Pantera Negra (Chadwick Boseman) e o novíssimo Homem-Aranha (Tom Holland). O primeiro tem um carisma magnetizante e muita personalidade e o segundo consegue roubar todas as cenas, com uma leveza e umas pitadas de humor desconcertantes. Tom Holland é um diamante por lapidar (já o tínhamos percebido em O Impossível, 2012, crítica aqui) e deixa as expetativas em alta para o filme a solo do aracnídeo. 

Capitão América: Guerra Civil é tudo aquilo que podemos esperar de um filme de super- heróis. A obra consegue provar que não é preciso haver cenas absolutamente portentosas a nível visual, prédios a implodir e cidades em ruínas, para nos cativar: apenas é necessária uma boa história. É claro que o filme ainda poderia ser melhor: falta-lhe, quiçá, um maior arcaboiço político que ajudasse a sustentar a trama e um vilão mais portentoso – Daniel Brühl bem que se esforça, mas Zemo quase passa incógnito. Todavia, não tenhamos dúvidas: Capitão América: Guerra Civil é um dos melhores filmes do género até à data. Numa luta feroz entre super-heróis, quem ganha mesmo é o espectador.

(Crítica originalmente publicada na edição de maio de 2015 da revista Metropolis)