Sensaborão e monótono, O Rosto da Inocência (2014) arrasta-se por uma narrativa pouco entusiasmante e com raros momentos de interesse. A história centra-se em Thomas Lang (Daniel Brühl), um cineasta incompreendido e incompreensível, que é contratado para realizar a adaptação cinematográfica da obra de Simone Ford (Kate Beckinsale), uma jornalista norte-americana que é correspondente em Roma. O livro aborda o julgamento de Jessica Fuller (Genevieve Gaunt) pelo alegado homicídio de Elizabeth Pryce (Sai Bennett), que havia sido violada e esfaqueada na casa que as duas estudantes partilhavam em Siena. Simone será a cicerone de Thomas pelas deambulações do caso e o cineasta vê-se, cada vez mais, enredado num crime sem solução e, sobretudo, nos seus próprios terrores interiores. Pelo meio conhece Melanie (Cara Delevingne), uma estudante inglesa que vive em Siena e que lhe mostra um lado da história que Thomas ainda não conhecia e talvez dele próprio também.
Michael Winterbottom realiza com pouco fulgor uma obra cujo próprio argumento também não é propriamente cativante. A fotografia cumpre e as paisagens de Siena são de rara beleza e quase nos fazem esquecer por momentos toda a trapalhada narrativa.
A obra é uma inspiração clara de um caso que deu muito que falar há poucos anos, um assassínio de uma estudante britânica em Perugia, pelo qual uma jovem americana foi considerada culpada e, passado algum tempo, viria a ser ilibada das acusações. Todavia, não é nem na vítima ou na suposta assassina que Winterbottom se foca, mas no próprio cineasta, a mais perdida de todas as personagens, pejado de conflitos pessoais, que vive um momento de bloqueio criativo.
Apesar do seu inegável talento, nem Daniel Brühl consegue salvar a obra, apesar de defender com veemência a sua personagem. Beckinsale não cativa ao contrário de Delevingne, que mostra, neste início de carreira, já algum carisma.
Cara Delevingne e Daniel Brühl em O Rosto da Inocência. Foto: Out Now. |
Desde cedo, O Rosto da Inocência envereda por um caminho tortuoso e nunca chega a encontrar-se, mostrando vários ramos narrativos mas não se concentrando em nenhum. O resultado é um debacle esquecível, apesar de uma premissa algo inspiradora.
(Crítica originalmente publicada no SAPO)