Batman v Super Homem: O Despertar da Justiça (2016) é um espetáculo visual chamativo mas titubeante na sua base narrativa. A história conta a batalha (supostamente) épica de dois pujantes super-heróis: Batman (Ben Affleck) e Super-Homem (Henry Cavill). Batman está cada vez mais céptico em relação a Super-Homem que, no fundo, é um alienígena com poder suficiente para acabar com a Humanidade quando lhe der na gana. Já o Super-Homem não vê nada com bons olhos a atual conduta de Batman, que é cada vez mais radical e até cruel na forma como combate a criminalidade. Juntamos a estas desconfianças um psicótico vilão, Lex Luthor (Jesse Eisenberg), e a festa está pronta para começar.
Ora, o filme arrebata-nos com o seu poder visual, efeitos especiais de tirar o fôlego e uma realização até bastante bem conseguida de Zack Snyder, notando-se perfeitamente a sua evolução desde o esquecível Homem de Aço (2013). A fotografia resulta bem no cômputo geral e a banda-sonora é simplesmente genial, unindo Hans Zimmer, um veterano sempre inventivo, e Junkie XL, que mostra que é um nome a ter muito em atenção.
Ben Affleck e Henry Cavill em Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça. Foto: Out Now. |
As coisas começam a falhar quando nos focamos no argumento, sensaborão e com alguns buracos. Apesar de haver uma boa exploração da linha ténue entre o bem e o mal, que acaba por ser o fio-condutor de toda a obra, a tal luta que tanto aguardávamos entre Batman e Super-Homem acaba por ser pouco fundamentada e resolvida de uma forma demasiado rápida. Num minuto, os heróis passam de inimigos mortais a quase melhores amigos. Além disso, há pouca exploração das personagens. Com a excepção de Batman – o rei do filme –, a complexidade dos restantes fica aquém, sobretudo quando se trata do Super-Homem, que não teve evolução narrativa desde o seu filme a solo. Tal resulta com que os atores não consigam brilhar muito, sobretudo Amy Adams, que acaba por ficar com uma Lois Lane qual dama em apuros e com pouca dimensão. Apesar de tanta controvérsia, Ben Affleck cumpre e até surpreende em alguns momentos, compondo um Batman mais sofrido e cínico do que noutras versões cinematográficas. Destaque ainda para Jesse Eisenberg, que mistura na sua personagem traços de Mark Zuckerberg de A Rede Social (2010, crítica aqui) com Joker, conseguindo alguns dos momentos mais impactantes da narrativa.
Mais do que um filme por si só, Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça é um excelente aperitivo para os próximos filmes que se seguem nas adaptações da DC Comics. O mais próximo é «Mulher Maravilha» e a personagem, interpretada por Gal Gadot, é um dos trunfos deste filme, com uma presença misteriosa mas resplandecente e uma entrada em luta da qual muitos super-heróis teriam decerto alguma inveja. Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça está muitos degraus acima de Homem de Aço mas ainda alguns furos abaixo da trilogia Batman de Christopher Nolan. Contudo, é um bom filme de super-heróis e entretém o espectador do princípio ao fim – e o filme ainda é longo. Missão cumprida.
(Crítica originalmente publicada no site da Metropolis)