Quase um thriller existencialista, Homem Irracional (2015) volta a trazer um Woody Allen mais introspetivo e reflexivo, mas ainda muito longe do seu melhor.
Abe Lucas (Joaquin Phoenix) é um professor de filosofia profundamente deprimido, que sobrevive à vida, sem qualquer razão para vivê-la. Entretanto, muda-se para um pequena cidade e lá tudo vai mudar. Começa por conhecer Rita Richards (Parker Posey), uma professora carente que vê nele a salvação para um casamento infeliz, e Jill Pollard (Emma Stone), uma das suas alunas que acaba por tornar-se na sua confidente. A jovem sente-se profundamente atraída pela personalidade fascinante de Abe, justamente o tipo de personagem que Allen sabe tão bem construir. Um dia, Abe e Jill ouvem uma conversa de uma desconhecida sobre uma decisão de um juiz. O que é ouvido por ambos acaba por mudar toda a existência de Abe, que encontra ali um novo motivo para viver.
Bem melhor do que o dispensável Magia ao Luar (2014, crítica aqui), este novo filme de Allen é mais profundo, sem deixar de ter alguma leveza. Alguns temas são também reavivados como, por exemplo, o poder do acaso, magistralmente abordado em Match Point (2005, crítica aqui), provavelmente, o último grande filme do realizador. O argumento desenvolve-se de forma fluida e agradável para o espectador, que não deverá ter muitas razões para entediar-se. A banda-sonora é, como sempre quando se trata de filmes de Allen, um complemento perfeito para a obra e um acrescento artístico irrepreensível.
Emma Stone e Joaquin Phoenix em Homem Irracional. Foto: Out Now. |
Emma Stone volta a ser a protagonista de uma obra do realizador e não dececiona, brilhando com o seu carisma habitual. Mas quem se destaca mesmo é Joaquin Phoenix, que torna a personagem sua e arrecada cenas impagáveis. Parker Posey é também um charme e adapta-se na perfeição, conseguindo alguns dos momentos mais divertidos da obra.
Homem Irracional está longe de ser uma obra-prima ou até mesmo um filme a não perder na carreira de Allen. Há o seu típico humor, o plasmar dos seus pensamentos filosóficos, a explosão da ironia e a dissecação de relações atribuladas. Todavia, apesar de não ser primoroso ou especialmente memorável, vale sempre a pena um filme de Allen, nem que seja pela sua imensidão narrativa e pela complexidade das personagens.
(Crítica originalmente publicada no SAPO)
(Crítica originalmente publicada no SAPO)