Irreverente, politicamente incorreto e deliciosamente arrojado, Deadpool (2016) é um filme de super-heróis que já esperávamos há muito tempo. O protagonista é Wade Wilson, um mercenário que fala pelos cotovelos e com um sentido de humor único. Um dia, descobre que tem cancro em estado terminal e acaba por se submeter a uma experiência clandestina, que o deixa com o poder de cicatrização acelerada, mas… completamente desfigurado. Revoltado com as intenções do líder da experiência e com as consequências físicas, Wilson, que agora responde pelo nome de Deadpool, só tem um objetivo em mente: vingar-se. Para tal, opta por um fato completamente vermelho para “os mauzões não o verem sangrar” e não deixar de irritá-los sempre que pode.
Ryan Reynolds em Deadpool. Foto: Out Now. |
O humor é algo perene na obra e é o elemento mais vivo, começando logo nos créditos iniciais até à cena pós-créditos (e sim, é melhor ficar mesmo até ao fim). A ação é também ela uma constante, com sequências bem conseguidas e carregadas de efeitos especiais. Tim Miller é um fã inveterado de banda-desenhada e desde cedo compreendeu a essência da personagem, o que trespassa para a sua realização, conseguindo captar o melhor que Deadpool tem para dar e tirando o melhor partido das “conversas” que o herói tem com o espectador.
Mas quem rouba todas as cenas é mesmo Deadpool e, claro, Ryan Reynolds, que encontrou, finalmente, a alma gémea em forma de personagem. O ator encarna na perfeição os delírios de Deadpool, tem um carisma irrepreensível e, sobretudo, um timing perfeito para todas as piadas que a personagem vai discorrendo (uma delas é, aliás, com o próprio Reynolds). Além disso, o ator procura há anos uma redenção para o retrato cinematográfico da personagem depois do desastre X-Men Origens: Wolverine (2009), o que finalmente acontece com este filme.
A acompanhar Reynolds estão dois mutantes (bastante) secundários - o estúdio não tinha dinheiro para mais, como explica o protagonista - e uns vilões pouco cativantes e marcantes, num contraste categórico com o herói. Este é um dos aspetos menos positivos do filme, tal como a própria história. Deadpool não se cala e quase nos distrai, mas não dá para passar ao lado de um argumento insípido, previsível e pouco arrojado.
Brianna Hildebrand e Ryan Reynolds em Deadpool. Foto: Out Now. |
Deadpool não quebra apenas a “quarta parede”, mas também muitos dos estereótipos dos filmes de super-heróis. Tem um tom algo juvenil e é uma lufada de ar fresco num género que Hollywood tem vindo a explorar até à exaustão. Mas o melhor mesmo deste filme é saber que ainda há muito por explorar com esta rica personagem. Ora, Deadpool tem medo de vacas, uma das suas fraquezas são gatinhos e é pansexual, uma característica levemente abordada no filme, mas que poderia ser mais explorada. Afinal, é muito raro na cultura popular uma personagem pansexual ser retratada, muito menos quando se trata de filmes de super-heróis. O “mercenário tagarela” chegou em grande força ao Cinema e venham daí as chimichangas!
(Crítica originalmente publicada na edição de março de 2016 da revista Metropolis)