Com um tratamento demasiado juvenil e com a criatividade deixada na gaveta, Convergente: Parte 1 (2016) deixa cair por terra as esperanças de uma saga cinematográfica já algo moribunda. No terceiro filme da série Divergente, encontramos Tris Prior (Shailene Woodley) e o seu grupo de amigos a sonhar com o que está para lá da muralha que cerca Chicago e fazem de tudo para conhecer o desconhecido. Mas, quando o fazem, rapidamente percebem que há algo muito assustador e inesperado. Entretanto, a situação agrava-se em Chicago e está prestes a começar uma guerra civil.
A premissa da série sempre foi o principal chamativo: uma sociedade distópica dividida em fações, de acordo com as suas qualidades. Tris distanciava-se de todos, reunindo todos os atributos, sendo uma Divergente. Todavia, ao longo do decorrer da saga, a chama foi-se perdendo e, nesta altura, já quase nem nos lembramos disso. A abordagem revelou-se superficial e pouco madura, apesar de percebermos, finalmente, neste filme, a origem destas fações. Portanto, a ideia-base é interessante, o problema foi o que se seguiu. Além disso, em Convergente: Parte 1, a realização de Robert Schwentke (que, entretanto, abandonou a saga) revela-se algo amadora, com planos que não lembra a ninguém, o que ainda não tinha transparecido anteriormente. A banda-sonora adequa-se à narrativa mas os efeitos especiais falham em vários momentos.
Shailene Woodley em Convergente: Parte 1. Foto: Out Now. |
Os atores vão sobrevivendo à falta de arcaboiço argumentativo, mas não podemos deixar de sentir que atores com tanto potencial como Shailene Woodley e Miles Teller mereciam personagens mais bem construídas. Os veteranos Naomi Watts e Jeff Daniels mostram o seu carisma e tentam ajudar a salvar a alma do convento.
Dentro das sagas juvenis, é já um hábito dividir o último livro em dois filmes, como acontece com Divergente. Não obstante, e apesar das falhas, Convergente: Parte 1 consegue, no entanto, fazer algo que filmes como A Saga Twilight: Amanhecer Parte 1 (2011) e The Hunger Games: A Revolta - Parte 1 (2014, crítica aqui) negligenciaram: ter um princípio, meio e fim. Este filme é uma história em si criando, claro, elementos que preparam a obra seguinte, mas contendo uma estrutura própria.
Desde o início, a série Divergente revelou-se uma espécie de parente pobre dos filmes do género, pelo que já seria difícil mudar muito a situação nesta altura do campeonato. Mas, mais uma vez, a premissa é boa e pode ser bem trabalhada e talvez algo se salve na próxima cartada, ou melhor, no derradeiro filme. Mas, por agora, Convergente: Parte 1 nem razoável consegue ser.