Inspirado no livro homónimo ("The Martian", no original) de Andy Weir, Perdido em Marte (2015) conta-nos (de novo) a história de como uma equipa de cientistas, a milhares de anos-luz, salvou o astronauta Mark Watney (interpretado brilhantemente por Matt Damon) de uma catastrófica morte em Marte. Pode não parecer, mas este filme de Ridley Scott tem muito mais de entretenimento do que de drama.
Longe de ser um filme perfeito, é uma obra de entretenimento pura e dura que tem tudo: um argumento sólido; um leque de interpretações (e um elenco) de luxo, com Matt Damon à cabeça, está claro; uma construção visual épica (a ajuda da NASA é um tremendo empurrão para a qualidade patente na vertente científica do filme); uma realização ao nível do melhor a que Scott nos habituou (felizmente, “aquilo” d’O Conselheiro (2013, crítica aqui) já passou); uma fotografia brilhante; uma banda sonora inventiva, divertida e perfeitamente adequada a cada momento do filme; uma forte componente emotiva e emocional; e, sim, diversão.
Matt Damon em Perdido em Marte. Foto: Out Now. |
Se há coisa que hoje em dia as maiores produtoras de Hollywood mais perceberam é a necessidade de criar bom entretenimento. Os filmes baseados nas histórias de Nicholas Sparks, as comédias românticas falhadas e as histórias à Michael Bay continuam, é certo, mas filmes como Os Guardiões da Galáxia (2014, crítica aqui), Kingsman: Serviços Secretos (2014, crítica aqui), Deadpool (2016) e Perdido em Marte mostram como o paradigma está a mudar: estas têm sido mostras de como é possível termos boas histórias, com argumentos bem estruturados e um humor inteligentemente apurado, e com qualidade para ganhar os maiores prémios do mundo.
Voltando ao princípio, Perdido em Marte certamente não ficará na história do Cinema, mas é um excelente filme, que marca 2015 como sendo o terceiro ano consecutivo (Gravidade, em 2013 - crítica aqui; e Interstellar, em 2014 - crítica aqui -, precedem-no) em que Hollywood fabrica uma história inventiva, inteligente e com um sentido crítico da Humanidade de nos projectarmos para o espaço sem olharmos, primeiro, para o que está a ser viver na Terra.
Matt Damon em Perdido em Marte. Foto: Out Now. |
Nunca imaginámos que a plantação de batatas ao som de música dos anos de 1970, com o pormenor de os bons resultados ao nível da colheita se deverem muito aos produtos fecais de astronautas, nos fosse dar um sólido (sem qualquer trocadilho) desenvolvimento de uma história passada no espaço.
Ridley Scott surpreende por conseguir atribuir a uma história de sobrevivência um tom tão descontraído. Da envolvência do Espaço passamos também para uma envolvência próxima de cada uma daquelas personagens - percebe-se sempre os seus intuitos e o que os leva a tomar cada decisão -, quase num estado de pertença a uma claque desportiva, a torcer pelo final feliz. Nem todos os filmes o conseguem fazer mas Perdido em Marte é exímio em tudo o que almeja: entreter. Sem dúvida, um final feliz a todos os níveis.