«A Rapariga Dinamarquesa»

Um (quase) biopic sobre uma figura inspiradora mas com uma trama demasiado romanceada, A Rapariga Dinamarquesa (2015) acerta na técnica, mas falha no conteúdo. A obra baseia-se livremente na história de Lili Elbe (Eddie Redmayne), uma das primeiras pessoas a fazer uma operação de mudança de sexo. Na narrativa, Lili começa por ser Einar Wegener, sendo casado com Gerda (Alicia Vikander), até que, aos poucos, se vai apercebendo de que algo não está certo, começando a encontrar-se verdadeiramente quando assume a identidade de Lili. O processo foi longo e difícil, sobretudo porque se passa nos idos do século XX.

O desenvolvimento da história é morno e com pouca chama, com uma realização nada inventiva de Tom Hooper, que mostra os acontecimentos como um mero espectador. A fotografia é cuidada, bem como o guarda-roupa, moldurados por uma produção cénica irrepreensível. A banda-sonora é outro aspeto muito bem conseguido, unindo-se na perfeição com a história.

Alicia Vikander e Eddie Redmayne em A Rapariga Dinamarquesa. Foto: cine.gr.
Quem faz o filme valer minimamente a pena são os atores: Eddie Redmayne e Alicia Vikander estão simplesmente soberbos. Ele consegue transcender-se novamente e torna tudo tão natural, fluido e simples, através de gestos e olhares, detalhes que engrandecem verdadeiramente um ator. Ela também se supera nos detalhes e na entrega à sua personagem, demonstrando garra, compreensão e um amor incomensurável. Aliás, a sua personagem acaba por ser a guia da história e, a certa altura, focamo-nos mais nela do que em Lili e talvez não fosse isso que se pretendia.

A Rapariga Dinamarquesa é um retrato histórico pouco rigoroso e isso acaba por afetar o entendimento da obra no seu geral. Há demasiados floreados e uma história de amor que se sabe que se vai desprender logo no final do primeiro acto e que se arrasta, sem que se dedique o merecido tempo à composição da protagonista, cuja história é inspiradora e pioneira. O filme fala efetivamente sobre uma rapariga dinamarquesa mas talvez a que tenha mesmo destaque não é aquela que se pensaria à partida.