Simples na essência e gigante no resultado, Timbuktu (2014) é uma viagem rara e belíssima por uma história muito atual e que decerto não deixará ninguém indiferente. A história, baseada em eventos reais, passa-se justamente na cidade de Timbuktu, no Mali, que é considerada Património Mundial da Unesco desde 1998. Aliás, é notório no filme como a cidade é tão única e fúlgida. Em 2012, a cidade foi ocupada por um grupo islâmico e tudo o que existia até então no local mudou. Chegou a era do medo e da opressão, das proibições a quase tudo, como a música ou ao futebol. A narrativa foca-se em Kidane (Ibrahim Ahmed), que vive com a sua mulher, Satima (Toulou Kiki), e a filha Toya (Layla Walet Mohamed). A pacata família acabará por ver tudo pungentemente alterado quando Kadine é acusado de um crime.
Abderrahmane Sissako capta as diferentes camadas de uma sociedade fragmentada pela opressão de uma forma inteligente e profundamente sensível. Com alguns planos mais demorados, os cortes são precisos, bem como o domínio do tempo. A narrativa respira na sua plenitude, o que contribui para um resultado final escorreito.
Imagem de Timbuktu. Foto: The Hollywood Reporter. |
A fotografia (a cargo de Sofian El Fani) é absolutamente irrepreensível, enchendo a tela de encanto e iridescência. O trabalho dos atores é, no seu cômputo geral, bem conseguido, não havendo, contudo, nenhuma interpretação que se destaque.
Alternando momentos delicados e poéticos, como um grupo de jovens que joga uma partida de futebol imaginário, com retratos brutais de violência, nada fica abstruso no filme. O seu tom quase documental ajuda a retratar com retidão a dramaticidade da sua incomensurabilidade narrativa.
Timbuktu emociona e apaixona, prendendo o espetador com as suas paisagens imensas em beleza e impacto. Mas o que impressionará mais será, sem dúvida, a história. Profundamente reflexiva, a obra leva a instigações mais arraigadas sobre a liberdade e a opressão, temas que continuam a estar na ordem do dia. A beleza e uma história impactante e inesquecível juntam-se. O resultado? É melhor ver por si mesmo.
(Crítica originalmente publicada no SAPO)
(Crítica originalmente publicada no SAPO)