O Homem Demasiado Amado (2014) revela-se uma proposta cinematográfica algo confusa e sensaborona, que não apaixona por completo. A história baseia-se em factos reais, narrados no livro de memórias de Renée Le Roux, “Une Femme Face à la Mafia”. Le Roux, interpretada pela dama francesa Catherine Deneuve, era dona do muito conhecido casino Palais de la Méditerranée, que sofre um duro golpe, o que leva a que Le Roux fique nas mãos da máfia. Para piorar o caso, Agnès (Adèle Haenel), a sua filha, apaixona-se perdidamente por Maurice Agnelet (Guillaume Caunet), um advogado mais velho que era conselheiro da sua mãe. Ele convence Agnès a votar contra a sua mãe, o que faz com que esta perca o casino. Após o sucedido, Maurice termina a relação. Ressentida com o desprezo de Maurice e revoltada com a traição à mãe, a jovem tenta acabar com a própria vida. Acaba por recuperar mas, pouco tempo depois, acaba por desaparecer misteriosamente.
Adèle Haenel e Guillaume Caunet em O Homem Demasiado Amado. Foto: Out Now. |
André Téchiné é um mestre na arte de filmar e não deixa os créditos por mãos alheias nesta obra. A sua realização cheia de sensibilidade, profundidade e com uma atenção enaltecedora pela expressividade dos atores preenche a tela de momentos marcantes.
Menos bem estará o argumento, que prolonga demasiado a narrativa e tenta mostrar muito, não conseguindo focar-se devidamente em determinados assuntos. A importância imensa das emoções e da paixão – que tem uma importância fulcral na obra – ou a supremacia do dinheiro são a génese da história. Contudo, tal como a personagem central, Maurice, também a obra não se deixa envolver pelas emoções, mantendo a sua racionalidade e pragmatismo.
Catherine Deneuve em O Homem Demasiado Amado. Foto: afmanchester.org. |
Um aspeto menos positivo da obra será também, porventura, o trabalho menos cuidado na caracterização das personagens na parte final da obra.
Falando no protagonista, Guillaume Caunet tem uma interpretação exemplar como, aliás, tem pautado nas suas últimas interpretações cinematográficas, sendo já um nome ao qual não se deverá passar ao lado no Cinema Francês. O mesmo é verdade para Adèle Haenel, que mostra um desempenho portentoso, cheio de carisma e entrega, conseguindo criar uma excelente química com o seu companheiro de cena e uma cumplicidade pungente com Catherine Deneuve. A veterana atriz deslumbra no papel de uma mãe sofrida, mas corajosa e destemida, que nunca desiste.
O Homem Demasiado Amado começa muito bem, captando, desde o início a atenção do espectador. Contudo, a pouco e pouco, vai perdendo a sua força e, quando termina, já o interesse é algo diminuto. Não obstante, a obra vai valendo a pena pelas interpretações fulgurosas e uma realização apaixonante.
(Crítica originalmente publicada no SAPO)
(Crítica originalmente publicada no SAPO)