«Sin City: Mulher Fatal» - O Regresso ao Mundo Sombrio

Com o regresso de Frank Miller e Robert Rodriguez à cidade maquiavélica de Sin City, regressamos, em Sin City: Mulher Fatal (2014), também àquele mundo, àquelas personagens e àquelas histórias. Numa mistura de sequela com prequelas, são-nos apresentadas quatro histórias distintas mas interligadas (e também ligadas ao primeiro filme, Sin City: Cidade do Pecado, 2005): "Just Another Saturday Night", que abre o filme; "A Dame To Kill For", que dá o nome ao filme; "The Long Bad Night", um segmento mais "solto" em relação às restantes histórias, e "Nancy's Last Dance", a história final do filme. Estas duas últimas foram criadas especificamente para este filme, ao contrário das primeiras, que foram adaptadas da banda desenhada.

Poster de Sin City: Mulher Fatal. Imagem: cinema.sapo.pt.

Numa junção de histórias em que tudo se conjuga de forma a prender a atenção de quem vê, entramos num comprimento de onda, ao nível do argumento, muito interessante, apelativo, com um enredo cativante e audaz. Contudo, peca por alguma falta de criatividade na criação da surpresa e do suspense. Não sendo totalmente linear, é uma história sem grandes picos, atraindo mais pela capacidade de entreter visualmente.

A densidade dramática das personagens é dada mais pelo contexto que as envolve - a cidade sombria, que engole todas as pretensões de levar algum "bem" ao mundo - do que pelas suas histórias de vida, que ficam sempre numa espécie de limbo entre aquilo que (não) nos contam e aquilo que provavelmente sabemos.

As interpretações estão a um nível altíssimo, com Joseph Gordon-Levitt a brilhar no segmento "A Long Bad Night" com uma personagem muito bem escrita e uma história cativante. Também Eva Green - a "mulher fatal", que dá nome ao filme - se destaca dos demais pela forma maquiavélica como conduz o rumo dos seus acontecimentos a seu bel-prazer, fazendo uso das duas melhores armas que tem ao seu dispor: o corpo e o cérebro. Nota positiva também para os desempenhos de Mickey Rourke, Bruce Willis, com uma presença curiosa e decisiva mas demasiado em segundo plano, e Jessica Alba, que soube aproveitar a pouca "história" dada à sua personagem neste filme para uma interpretação agradável.

Joseph Gordon-Levitt em Sin City: Mulher Fatal. Imagem: cinemagia.ro.

Contudo, o que torna este "universo" de Sin City em algo de grandioso e especial é a capacidade de entreter pelo visual do filme. Com uma construção de cenas extremamente interessante, Rodriguez e Miller tornam este filme em algo de verdadeiramente incomum e belo. Uma imagem artística criada para uma incólume adaptação da banda desenhada para o Cinema transformam em algo de histórico na Sétima Arte.

Por fim, apesar dos muitos pontos positivos deste filme e de alguns pontos que não o serão tanto, uma nota final para a construção do argumento: as histórias poderiam ter um ritmo mais próprio, deixando "respirar" os momentos de transição entre segmentos e núcleos. Ficaríamos, assim, com um filme estupidamente longo, mas seria necessária uma abordagem nesse sentido. Alongar-se-iam os medos, a coragem, os amores e os desamores de cada uma daquelas personagens. Passaria toda a história de uma forma mais verdadeira e humana - distanciando do ambiente herói/anti-herói - para o espectador. Sin City: Mulher Fatal cumpre, assim, de forma quase perfeita ao nível do entretenimento, mas peca na construção dramática.

A "Mulher Fatal" de quem nos falam Miller e Rodriguez, Eva Green, em Sin City: Mulher Fatal. Imagem: cine.gr.