Diferente e profundamente reflexivo,
O Teorema Zero (2013) ousa e instiga o espectador a pensar sobre a vida num aspecto existencialista. O que somos verdadeiramente e qual é o sentido das nossas vidas? Estas são algumas das perguntas que faz o protagonista, Qohen Leth (
Christoph Waltz), que não vai descansar até ter respostas para as mesmas. A personagem é um programador incumbido de descobrir o tal "teorema zero", vivendo num futuro onde a tecnologia é a base de toda a existência humana, na qual a comunicação entre as pessoas é reduzida ao mínimo necessário.
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Christoph Waltz em O Teorema Zero. Foto: Kino. |
Terry Gilliam é o realizador da obra, conseguindo um trabalho profundamente criativo e simbólico, numa viagem a um futuro ruidoso e incomodativo. Prova disso mesmo é uma das cenas iniciais, quando Qohen sai de sua casa para o trabalho. Gilliam consegue materializar de forma exímia a dicotomia entre o mundo colorido e cheio de novidades a todo o momento com a igreja que Qohen transformou em lar, onde o silêncio prevalece, tal como a escuridão, numa perfeita personificação do interior da própria personagem. A fotografia contribui para este ambiente contraditório mas também cativante.
Christoph Waltz é a alma do filme, numa interpretação soberba do actor, que sempre consegue superar-se nos seus papéis. Nesta personagem, tão ingénua, mas persistente e perdida em si mesma, só um actor como Waltz poderia transmitir todas as suas nuances. Outra interpretação surpreendente cabe a Mélanie Thierry, que interpreta Bainsley, a mulher que vai levar Qohen a ver a vida de outra forma, numa outra versão, mais doce. Não é à toa que para emoldurar estes momentos foi escolhida uma
cover da música Creep, dos Radiohead, que, desta vez, é interpretada por Karen Souza. Mélanie criou uma óptima química com Waltz, rendendo as cenas mais encantadoras da obra. Já Matt Damon é desapontante no filme, não tanto pela sua interpretação, mas pela sua personagem insípida e (quase) dispensável.
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Mélanie Thierry em O Teorema Zero. Foto: Out Now. |
O Teorema Zero não fala do sentido da vida, mas do seu não sentido. Qohen espera todos os dias por uma chamada, aquela que lhe dirá qual o sentido da sua vida. E este acaba por ser o seu único objectivo e também sentido existencial, numa metáfora para a sociedade actual, que se preocupa mais com os artifícios. A obra não será, por certo, do agrado de todos. Contudo, será difícil que não provoque e faça reflectir, o que, por si só, já vale a pena.