Previsões para os Óscares



Pelo segundo ano consecutivo, o Metragens entra na fase derradeira e decisiva dos Óscares e a aposta no acompanhamento da cerimónia é grande: depois da apresentação de cada categoria (e de cada nomeado), vamos estar no Facebook, a noite inteira, a acompanhar, a par e passo, as incidências da entrega dos grandes prémios do Cinema. Por agora, fazemos as nossas previsões para as principais categorias dos Óscares: quem ganha, quem merece ganhar, quem deverá ganhar... Nem sempre as respostas a estas questões coincidem e a Academia de Hollywood tende a seguir um caminho lógico, algo previsível mas nem sempre condizente com a opinião da maioria dos espectadores e cinéfilos.

Aqui, os elementos do Metragens, Pedro Filipe Godinho e Tatiana Henriques, farão uma junção destas questões e irão apresentar as suas previsões para a cerimónia de logo à noite. Para um conhecimento mais detalhado de cada categoria, dos seus nomeados e dos próprios filmes, deixámos as ligações nos títulos das categorias para as apresentações que fizemos no blogue. Bons filmes!

Pedro: Por tradição, é uma categoria dedicada apenas a filmes de época e, mais uma vez, ela não foi quebrada. O Grande Gatsby e 12 Anos Escravo parecem-me partir na dianteira mas o brilho e a animação dos vários elementos no contexto da história protagonizada por Leonardo DiCaprio dão a ideia de O Grande Gatsby poder ser o candidato mais forte. Golpada Americana também poderá ser um justo vencedor.

Tatiana: Como é habitual, os nomeados são todos referentes a filmes de época. Nesta edição, as maiores dúvidas centram-se entre Golpada Americana e O Grande Gatsby. No primeiro caso, o guarda-roupa tem um papel muito importante (tal como a caracterização), ajudando a enquadrar melhor as personagens, sobretudo no caso de Sydney Prosser (Amy Adams), com os seus vestidos decotados, que incrementam a sensualidade do papel. Já O Grande Gatsby é um exemplo exímio de retrato esmerado de uma época - no caso, da década de 1920, com um guarda-roupa cuidado e detalhado, que brilha no ecrã. A escolha não será fácil, mas talvez esteja mais inclinada para O Grande Gatsby.

Pedro: Sem grande margem para dúvidas, deverá ganhar Gravidade. Praticamente perfeito ao nível visual - é, aliás, a grande virtude do filme de Alfonso Cuarón -, consegue captar todo um universo de situações relativas à navegação espacial. Incrível do ponto de vista técnico, um realismo verdadeiramente assinalável. Qualquer outro candidato está patamares abaixo do resultado final de Gravidade. A haver um vencedor alternativo, este só poderá ser O Hobbit: A Desolação de Smaug.

Tatiana: Apesar dos concorrentes de qualidade assinalável, seria injusto que esta estatueta fugisse a Gravidade. Os efeitos visuais são, justamente, um dos grandes avanços técnicos da obra, tornando inesquecível a representação do Universo numa situação dramática, mas igualmente bela.

Pedro: Será difícil não olhar para Gravidade como, novamente, o grande favorito nesta categoria. Mais uma vez, os restantes nomeados parecem não ter grandes hipóteses ao lado do trabalho de Cuarón.

Tatiana: Também aqui, deverá ser Gravidade o vencedor, pois consegue uma fotografia arrebatadora e única, que não se iguala à dos outros concorrentes. Não obstante, destaque também para Raptadas, cujo trabalho neste âmbito incrementa em muito a qualidade global da obra.

Sandra Bullock e George Clooney em Gravidade. Foto: collider.com.

Pedro: Categoria de muito difícil análise. Aposto que deverá ser uma das mais renhidas por entre os membros da Academia. É complicado não olhar para todos os candidatos como possíveis vencedores. Vejamos: Antes da Meia-Noite tem a aura de toda uma trilogia que marcou muita gente e tornou milhares (ou milhões?) de pessoas em fanáticos por este casal ao mesmo tempo tão único e tão igual a todos nós; Capitão Phillips consegue adaptar de um livro uma história de terror num filme extremamente bem conseguido; Filomena é, talvez, a história tocante do ano, que mistura da melhor forma alguns sorrisos com algumas lágrimas; 12 Anos Escravo, com origem num livro homónimo, conta a história mais arrepiante e aterradora do ano - aquele que, para mim, é, sem margem para grandes dúvidas, o filme do ano; e O Lobo de Wall Street, mais uma adaptação de um livro com um resultado final verdadeiramente empolgante e espectacularmente interessante e apelativo. É de muito difícil escolha e, sinceramente, não consigo antever qual será a escolha da Academia. O meu voto iria para 12 Anos Escravo.

Tatiana: Os nomeados são muito fortes e esta não é uma categoria fácil nestas coisas de previsões. São todas obras fascinantes, por diferentes motivos, mas que deixam marcam no Cinema, indubitavelmente. Contudo, é possível que o troféu seja entregue a 12 Anos Escravo ou a O Lobo de Wall Street, pela adaptação verosímil e o mais fiel possível às histórias reais. Em ambos os casos, as histórias ganharam muito mais brilho com a sua adaptação cinematográfica. Na minha opinião, seria 12 Anos Escravo a receber a estatueta dourada.

Pedro: Situação tirada praticamente a papel químico da categoria anterior, com duas diferenças substanciais: Golpada Americana parece partir na dianteira pela forma como se tem destacado noutros prémios e os candidatos parecem estar alguns patamares abaixo dos nomeados para Argumento Adaptado. Golpada Americana não me parece ser a melhor escolha, já que a história contada por David O. Russell não me encheu as medidas por aí além, mas os restantes concorrentes não têm o peso necessário para se sobreporem grandemente a este trabalho. Apenas Uma História de Amor, pela originalidade e pela forma como lança para a sociedade a discussão sobre um assunto tão importante como é a dependência humana da tecnologia, ou Blue Jasmine, como atribuição de uma espécie de homenagem a Woody Allen, terão, a meu ver, alguma hipótese de ombrear com a golpada de Russell.

Tatiana: Mais uma tarefa nada fácil nesta categoria, contudo, neste caso, penso que deveria ser Uma História de Amor a vencer, por ter uma criado uma história nova, diferente do habitual, que faz sonhar e também reflectir. A obra concorre com Blue Jasmine, de Woody Allen, que é sempre um concorrente à altura para vencer um Óscar. Todavia, poderá ser Golpada Americana a vencer (se tivermos em conta os prémios que já tem arrecadado), apesar de ser uma história contada de forma algo confusa no grande ecrã. 


Joaquin Phoenix em Uma História de Amor. Foto: Out Now.

Pedro: A minha opinião para esta categoria é limitada, tendo visto apenas um dos nomeados, Gru - O Maldisposto 2. Se, há um ano, o candidato mais forte e mais provável vencedor era - e acabou por ser - Brave - Indomável, a decisão deste ano não me parece tão clara. The Wind Rises poderá vencer pela quase homenagem que seria atribuir uma segunda estatueta ao septuagenário Hayao Miyazaki por aquele que o próprio definiu como sendo o seu último filme. Ainda assim, as previsões apontam mais no sentido de - finalmente, justa ou injustamente - a Disney vir a receber novamente um Óscar, por Frozen -  O Reino do Gelo.

Tatiana: Não haverá, decerto, muitas dúvidas aqui: o Óscar deverá ser entregue a Frozen -  O Reino do Gelo. A obra tem unido o encanto do público (foi um dos filmes mais vistos em 2013) e a atenção da crítica, pelo que terá muitas hipóteses de vencer o Óscar.

Pedro: É um grupo de nomeados muito interessante mas o italiano A Grande Beleza parece ter a frase "Vencedor do Óscar da Academia para Melhor Filme Estrangeiro" já inscrita nas futuras capas de DVD.

Tatiana: Os filmes The Hunt - A CaçaA Grande Beleza serão os candidatos mais prováveis a vencer a estatueta, estando o segundo na dianteira. São dois filmes muito diferentes mas igualmente marcantes, que têm vencido vários prémios um pouco por todo o mundo.

Pedro: Escolha fácil, para mim: Lupita Nyong'o. Sem margem para grandes dúvidas, a actriz mexicana destaca-se nesta categoria das restantes nomeadas e deveria ser a vencedora. Ainda assim, Hollywood parece preparar-se para um avanço diferente: Jennifer Lawrence poderá levar a estatueta dourada para casa, naquela que é a sua terceira nomeação e seria o segundo prémio. Não me parece minimamente bem atribuído, existindo um claro hype à volta da menina preferida de Hollywood na actualidade. Espero que esse peso não entre nas contas da atribuição deste prémio e consagrem o trabalho de Nyong'o.

Tatiana: Esta é uma das categorias mais disputadas da noite, sobretudo entre dois nomes: Jennifer Lawrence e Lupita Nyong'o. Apesar do talento inegável de LawrenceLupita Nyong'o teve uma interpretação magistral e merece o Óscar. Mas é possível que a Academia opte por premiar Lawrence, tal como no ano passado, em que também talvez não merecesse assim tanto a estatueta dourada.

Lupita Nyong'o em 12 Anos Escravo. Foto: telegraph.co.uk.

Pedro: Escolha algo complicada, com três candidatos muito fortes: Jared Leto - durante muito tempo o grande favorito - por O Clube de Dallas, Michael Fassbender por 12 Anos Escravo e Barkhad Abdi por Capitão Phillips. Pessoalmente, daria o prémio a Abdi com Fassbender como a grande menção honrosa. Mas a decisão da Academia poderá não seguir nesse sentido, já que Leto parece mesmo ter caído nas graças de Hollywood.

Tatiana: Os nomeados desta categoria superaram-se, conseguindo, por vezes, igualar a interpretação dos próprios protagonistas. Jared Leto tem sido o concorrente apontado como possível vencedor e seria realmente merecido. Mas não posso também deixar de destacar o fantástico trabalho de Michael Fassbender, uma das interpretações basilares de 12 Anos Escravo.

Pedro: Categoria de fácil decisão já que só há um actor destes cinco que tem, definitivamente, o desempenho do ano e algo verdadeiramente transcendental: ele é Chiwetel Ejiofor, em 12 Anos Escravo. Se não ganha, será uma injustiça tremenda. Por outro lado, a aura algo mítica - de que falei na crítica aqui no Metragens - que emana o desempenho de Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street poderá aproximá-lo de um prémio que já deveria ter sido seu - por várias vezes - há vários anos. Ainda assim, não será justo para Ejiofor que se atribua o prémio a DiCaprio para corrigir erros do passado. Matthew McConaughey entra nestas contas por, como Jared Leto, ter andado nas bocas do mundo como o grande favorito durante muito tempo. Embora admita que possa ser o vencedor, não há, de forma alguma, maneira de equiparar o seu trabalho em O Clube de Dallas aos trabalhos de Ejiofor e DiCaprio.

Tatiana: Com interpretações tão inesquecíveis é difícil escolher o melhor, mas Chiwetel Ejiofor acaba por destacar-se. O actor britânico teve em 12 Anos Escravo um papel único, que aproveitou ao máximo as suas potencialidades. Foi a personagem do ano. Leonardo DiCaprio também brilhou em O Lobo de Wall Street, mas não é muito provável que ganhe. Contudo, já aconteceu anteriormente na História da Academia, serem premiados actores com personagens menos fortes para compensar erros do passado. Afinal, são os Óscares, e tudo pode acontecer.

Chiwetel Ejiofor em 12 Anos Escravo. Foto: Cine.gr.

Pedro: Mais uma decisão previsível da Academia. Para mim, ganharia Amy Adams pela actuação soberba em Golpada Americana, mas o prémio deverá ser entregue - com praticamente cem porcento de certeza - a Cate Blanchett pela sua Jasmine de Blue Jasmine.

Tatiana: Não há dúvidas aqui, estando Cate Blanchett indicada como a mais provável vencedora. Amy Adams poderia ser também uma justa vencedora, caso a actriz australiana não estivesse também nomeada.

Pedro: Sem grandes surpresas, deverá ser Alfonso Cuarón a levar para casa a estatueta dourada pela forma como estruturou o seu Gravidade como uma espécie de bailado espacial. As menções honrosas seriam extremamente bem entregues - como um segundo lugar em ex aequo - a Scorsese e McQueen.

TatianaMartin Scorsese e Steve McQueen tiveram trabalhos intocáveis, mas Alfonso Cuarón elevou-se, com uma realização imaginativa e inovadora com o genial Gravidade.

Pedro: Por definição, não admitiria outra escolha que não 12 Anos Escravo. É o filme do ano e, por isso, merece ser elevado a tal estatuto com um prémio desta importância. Qualquer outro candidato poderia merecer o prémio mas há aqui nomeados que, num ano em que a concorrência fosse mais forte - como foi 2013, por exemplo -, não entrariam neste lote. Mas não se pense que a obra de Steve McQueen ganha por defeito alheio e não por mérito próprio. É definitivamente um grande filme e, acredito, ficará para a História do Cinema. Dos restantes, há menções honrosas a atribuir mas não a todos.

Tatiana: Os nomeados são filmes fabulosos e que ficarão, por certo, na História do Cinema. Gravidade foi uma inovação cinematográfica e seria um justo vencedor do Óscar de Melhor Filme. Mas talvez não consiga superar o soberbo 12 Anos Escravo, uma história desoladora, tocante e magnificente, que merecia receber a estatueta dourada.

Michael Fassbender, Lupita Nyong'o e Chiwetel Ejiofor em 12 Anos Escravo. Foto: Cine.gr.