Só Precisamos de Amor (2012) e, quem sabe, de alguma criatividade artística. A premissa do filme de Susanne Bier é forte e profundamente tocante. Ida (Trine Dyrholm) luta contra o cancro da mama, tendo que usar uma peruca pois perdeu o cabelo devido aos tratamentos. Entretanto, apanha o marido a traí-la na sua casa e fica ainda mais destroçada. Philip (Pierce Brosnan) é um viúvo que continua a culpar todos pela morte da sua mulher, sendo (quase) sempre desagradável. Ambos acabam por encontrar-se, por acaso, em viagem para o casamento do filho dele, Patrick (Sebastian Jessen), e da filha dela, Astrid (Molly Blixt Egelind). Este casal também não é tão feliz como as aparências podem indiciar…
Pierce Brosnan e Trine Dyrholm em Só Precisamos de Amor. Foto: Out Now. |
A obra vai alternando entre momentos lamechas e outros de comédia até bem conseguidos. O dramatismo da fita vai contrastando com as paisagens idílicas de Itália. Aliás, o retrato do país e do povo são recheados de clichés, o que não abona a favor da obra, que deveria apostar em alguma originalidade neste aspecto, indo ao encontro da pertinência do argumento. A certa altura, até se pode pensar que será uma espécie de Mamma Mia! (2008), com todas as personagens a envolverem-se numa cantoria pegada, mas tal é puro engano. Ainda assim, parece-se quase com uma comédia romântica, perdendo a envolvência dramática que poderia surgir da narrativa e recheando-se de alguns lugares-comuns.
Imagem de Só Precisamos de Amor. Foto: Out Now. |
Apesar de alguns problemas no modo como a narrativa é retratada e desenvolvida, há aspectos positivos na obra, tal como a forma como o cancro é retratado pela protagonista, que tenta superar a doença, atitude que faz lembrar a série televisiva O Grande C, protagonizada por Laura Linney. A química entre os dois protagonistas, Brosnan e Dyrholm, é um dos melhores aspectos do filme, com os actores a conseguirem criar uma boa relação quase de amor-ódio entre as personagens. Mas Trine Dyrholm acaba por roubar todo a atenção para si mesma, conseguindo um desempenho marcante e profundo de uma mulher corajosa e resiliente, que não desiste de encontrar a felicidade, apesar das adversidades. O casal principal da obra é muito diferente entre si, mas com algo comum: as amarguras que o passado trouxe e prevalecem até ao presente.
A moral do filme é deveras optimista, perspectiva que deveria, talvez, prevalecer, em vez de deambular entre o dramatismo e a comédia, sem um verdadeiro fio condutor. A história é promissora e desafiante, mas o seu encanto acaba por ficar pelo caminho, parecendo-se, demasiadas vezes, com uma simples comédia romântica, quanto tinha potencial para muito mais.