Nómada. Foto: Beyond Hollywood. |
Nómada (2013): uma miscelânea de potencialidades destruída com futilidades argumentativas. O filme trata de um futuro distópico, onde a Terra é invadida por extraterrestres que possuem os corpos dos humanos, retirando-lhes as memórias. São já poucos os humanos que conseguem resistir à invasão, mas nesse pequeno grupo está a corajosa e inflexível Melanie Stryder (Saoirse Ronan). Só que até ela acaba por ser invadida por uma “Nómada”, contudo, vai permanecer viva dentro dela, passando a existir assim duas almas no mesmo corpo, apresentando-se assim uma interessante dicotomia existencial. O objectivo da “Nómada” é encontrar, através das memórias de Melanie, os outros resistentes, mas acaba por corromper-se, ao longo do filme, pela impulsividade e passionalidade humanas.
Saoirse Ronan e Max Irons em Nómada. Foto: Out Now. |
Até aqui, a premissa é algo cativante e intrigante, mas não nos entusiasmemos, porque falta aqui um pormenor importante: o argumento é baseado no romance homónimo de Stephenie Meyer, a mesma autora da saga Twilight (pode ver aqui a crítica de A Saga Twilight: Amanhecer Parte 2, de 2012). E, claro, este factor acaba por alterar o modo como a história é desenvolvida. Meyer não consegue, de facto, resistir aos chamamentos melodramáticos e frágeis de triângulos amorosos sem chama alguma. Neste caso, o triângulo é deveras estranho, mas depois de uma adolescente dividida entre um vampiro e um lobisomem, tudo se espera. O romance e os atritos emocionais só atrapalham em Nómada, retirando alguma complexidade narrativa que poderia surgir, se o mesmo amor fosse contado de outra forma, menos piegas e sensaborona. Além disso, a própria convivência entre a Nómada e Melanie acaba por resolver-se demasiadamente fácil, com Melanie a sobrepor-se de forma clara e implacável, não havendo uma verdadeira luta entre ambas.
Diane Kruger em Nómada. Foto: Out Now. |
Saoirse Ronan é a verdadeira alma do filme, que nos faz resistir à monotonia do argumento e enriquece com a sua expressividade opulenta e versátil. A actriz consegue incorporar a luta entre as duas personagens num só corpo, além de que está completamente à vontade nas cenas de mais acção, como, aliás, já tinha provado em Hanna (2011). A menina-prodígio de Expiação (2007) e Visto do Céu (2009) cresceu e é a única que se destaca (juntamente com William Hurt) num deserto interpretativo.
Apesar de tudo, Nómada consegue ser mais consistente e seguro do que a saga Twilight (as comparações são inevitáveis). A narrativa é mais cativante e envolvente, apesar da realização monótona de Andrew Niccol. Fala-se numa possível continuação, mas tal seria provavelmente estragar o que já não foi, de todo, perfeito. Os filmes de ficção científica podem servir para criar situações improváveis, fazendo o espectador reflectir sobre diferentes complexos humanos, o modo como o Homem reagiria a determinadas situações. Mas, em Nómada, este objectivo fica pelo caminho. A ameaça extraterrestre é demasiado benigna, parecendo não consistir em verdadeiro perigo, retirando assim qualquer dramatismo existencial às personagens. No seu todo, Nómada é inócuo e pouco reflexivo, tornando-se pouco memorável, mesmo quando o público-alvo é claramente o juvenil e, considerado, porventura, menos exigente.
(Crítica publicada na edição de Abril de 2013 da revista Metropolis).
(Crítica publicada na edição de Abril de 2013 da revista Metropolis).