Por: Maria Araújo Mesquita.
Não é de todo o título de filme que me levaria à sala de cinema. Já a capa de Mamã (2013)… Isso é outra coisa.
Realizador: Andrés Muschietti. Não me dizia muito. Fui pesquisar. Ganhou o International Fantasy Film Award para Melhor Realizador e Melhor Filme no nosso Fantasporto, em 2013. Já no Palm Springs International Film Festival, também este ano, ganhou na categoria de Directors to Watch.
“Não pode ser assim tão mau…”, pensei eu, levada mais uma vez pelas vitórias em festivais internacionais…
Apesar de tudo, Andrés Muschietti não me dizia grande coisa. Até descobrir (apenas no genérico; já tinha começado o filme) que Guillermo del Toro era o Produtor Executivo.
Ok. Dúvidas fora, vamos ver isto.
Comecei com expectativa, pareceu-me morno no início, uma espécie de “crianças mogly”… não percebi bem que rumo iria levar o filme.
Mas Guillermo del Toro (a dar palmadinhas nas costas a Andrés Muschietti, se é que me faço entender) conseguiu fazer, não uma obra de arte do cinema de terror, mas um filme clássico, aquele clássico com qualidade, aquele terror óbvio, aquele terror com crianças (o que seria dos filmes de terror sem as crianças e a sensibilidade enorme que causam no público?) e aqueles fantasmas tão gastos na ilustração dos anos 90, sempre com classe, o "dentro do armário, o “debaixo da cama", as crianças, os desenhos estranhos, os psiquiátricos aliados à fantasia, tudo remetendo para os anos de ouro dos filmes de terror.
Nikolaj Coster-Waldau, Jessica Chastain, Megan Charpentier e Isabelle Nélisse em Mamã. Foto: Beyond Hollywood. |
Não é um filme de Del Toro. Eu sei que não é. Não sou fanática ao ponto de dizer isso. É de toda a equipa. O próprio Andrés Muschietti, leituras através da Revista Metropolis, da entrevista levada a cabo por Tatiana Henriques na edição de Março deste ano (pp. 18-19), permitiu-me conhecer melhor o realizador e argumentista, o que me ajudou na crítica e fez todo o sentido:
Andrés Muschietti: Continuo a trazer os meus medos infantis, era uma criança assustadiça. Às vezes, não conseguia dormir, porque achava que havia presenças sobrenaturais na minha casa, provavelmente alimentado por horas e horas a ver filmes de terror desde muito cedo, o que não é algo muito recomendável. Foi algo que teve sempre repercussões, a minha natureza assustadiça e os filmes que vi. Também sou um artista de desenho e ilustração, desde criança que desenho de tudo, como monstros loucos. Algo muito excitante para mim era explorar tudo o que era assustador.
Apesar de tudo isto e das explicações dadas na entrevista que tão acerrimamente li, Del Toro esteve de corpo e alma na produção e realização do filme. São palavras de uma observadora, mas sobretudo de uma fã, nunca se pode esquecer isso. Vá lá… Aquele fantástico de O Labirinto do Fauno (2006), ou de Nas Costas do Diabo (2001)…? Não há como negar.
Vale a pena para quem gosta de terror, aliás, para quem gosta de fantasia, de Del Toro... Quem deseja conhecer o novo vencedor do Palm Springs International Film Festival e do talento a surgir. Gostei muito. Vale mesmo a pena.
O fim? Já ouvi comentários sobre o fim ser mau. Não concordo. Acho que só poderia ser assim.