Sniper Americano - Uma Lição de Patriotismo por Clint Eastwood

No papel de Chris Kyle, Bradley Cooper num dos pontos mais altos de Sniper Americano, na mensagem de completa desintegração e afastamento que o filme demonstra da realidade posta em evidência. Foto: Cinemagia.ro.
Foi a grande surpresa dos nomeados aos Óscares deste ano ao preencher um total de seis categorias, incluindo as de Melhor Filme e Melhor Actor (Bradley Cooper). No entanto, está longe de ser uma obra consensual. Para uns, é o delírio patriótico norte-americano do ano, para outros, é um bom filme com uma história poderosa. A verdade é que, olhando sem preconceitos e interpretando os sinais que Eastwood vai dando ao longo do filme, está mais perto da segunda avaliação do que da primeira.

Centrado na história verídica do “atirador mais letal da história dos Estados Unidos da América”, Chris Kyle, o filme transporta-nos até aos primeiros momentos em que a “Lenda” (como passou a ser tratado por companheiros de armas) se alista, já tardiamente na idade, nos SEAL e às quatro missões que o levaram até à guerra no Iraque. Em simultâneo, acompanhamos também a sua evolução emocional e psicológica, com especial destaque para a relação com a mulher, Taya (Sienna Miller), e os filhos.

Ao contrário do que se possa pensar, tal como em 00:30 A Hora Negra (crítica aqui), Sniper Americano é mais do que um filme de exaltação patriótica. É, sim, uma boa história sobre um homem que se tornou num ícone dentro das forças armadas norte-americanas. Podemos até interpretar o filme como sendo mais do que a história daquele homem. É também a história de outros milhares de homens, como Kyle, que passam ou passaram (e, infelizmente, passarão) pelas experiências da guerra.

Bradley Cooper e Clint Eastwood, os dois maiores obreiros da qualidade de Sniper Americano. Foto: Cinemagia.ro.
Há um ponto particularmente interessante neste Sniper Americano e que está extremamente bem conseguido, que é a dicotomia entre defender uma pátria, um conjunto de valores e um modelo de sociedade no qual um soldado que é sujeito a algumas das mais extremas formas de violência humana não se consegue integrar. O não saber viver de outra forma que não na guerra, o regressar sem quaisquer perspectivas de vida ou carreira, os constantes temores provocados pelo stress pós-traumático - muito bem retratado por um sublime desempenho de Bradley Cooper (o Óscar seria inteiramente merecido).

Mais do que contar a história da guerra no Iraque e de como os EUA lá chegaram e o que fizeram desde o início do século naquela região, está em foco o ser-se soldado. O ir e voltar, a família que se deixa e que, por vezes, os deixa. O não saber se regressam vivos. Forte emocionalmente, Sniper Americano é uma lição de como o patriotismo é das coisas criadas pelo Homem mais absurdas que existem.

Com uma realização bastante engenhosa - somos transportados para todos os momentos do filme como se lá estivéssemos, ao ponto de nos esquecermos que há alguém a filmar -, uma fotografia quase sombria que ajuda sobremaneira a incutir as inevitáveis emoções a que somos sujeitos durante praticamente todo o filme e, acima de tudo, uma incrível prestação de Cooper, Sniper Americano é, sem dúvida, um dos filmes do ano.