Como eu te conheci não interessa

Passaram-se nove anos de ti. Não te conheci há nove anos. Terá sido há uns sete. Prometeste-me contar as histórias das tuas vidas. Eu aceitei ouvi-las. Contava-las com um sentido de humor único, às vezes corrosivo, outras vezes cómico, outras vezes (muitas) enternecedor. 

Agora, tudo acabou. Contaste, finalmente, a história que me querias contar desde o primeiro momento. Lembro-me de todas elas. Lembro-me dos detalhes. Lembro-me de coisas que me contaste palavra por palavra. Se mas repetires, eu poderei contá-las ao mesmo tempo que tu. Sim, foi assim tão forte.

Demoraste o teu tempo. Quiseste fazer render o que de melhor terias para contar. Quiseste apimentar detalhes das tuas vidas com pormenores que só tu poderias inventar. Deixaste-me exasperado quando demoravas a contar histórias insignificantes. Nem o teu óbvio talento as tornou interessantes.

Contaste-me histórias que adorei, outras que detestei e que achei que nunca deverias ter contado dessa maneira. Acho que mentiste muitas vezes para tornar algumas mais interessantes ou inspiradoras. Acredita, não resultou. Por exemplo, aquela vez em que duas das tuas personagens principais ficaram juntas. Frustraste-me. Nada daquilo fazia sentido. Foste a tempo de o corrigir.

Na história paralela principal, conseguiste montar uma estrutura curiosa. Do início, apaixonado, intenso, vibrante, passaste para uma monotonia assente em pequenas coisas. Foi chato, entendo. Mas percebo o porquê. Quiseste mostrar-me que não há problema nos pequenos detalhes. Que são eles que fazem a diferença. São eles que marcam as nossas vivências.

No principal, não mentiste. A tua linha foi bem delineada desde o princípio. Sabia ao que ias mas surpreendeste-me. Os que às vezes cuscavam os momentos em que me contavas as tuas histórias desprezavam-na. Achavam que não tinha interesse nenhum. Paciência. Tu sabes por que a contaste e por que a contaste daquela maneira. Eu concordo com tudo. O final foi perfeito.

Com uma sequência de três ou quatro histórias, durante nove anos, contaste-me o que havia para contar de um universo. Explicaste-me sentimentos. Explicaste-me que há inevitáveis inevitáveis. Mas que também os há que são evitáveis. Que importa aprender com a experiência. Que vale a pena esperar. Que tudo acaba por ter um sentido. Mesmo que ele não seja o mais óbvio. Mesmo que não nos faça felizes.

Marcaste-me.


Um dos momentos do último episódio de Foi Assim que Aconteceu (How I Met Your Mother, no título original). Foto: CBS.com.