O final (pouco) épico da trilogia 'A Ressaca'

A Ressaca - Parte III. Foto: Beyond Hollywood.

A “matilha” está de volta para uma última aventura que promete ser épica. Contudo, poderia ser mais incrível do que o que acabou por ser. Nesta terceira entrega, não há despedida de solteiro ou casamento, o que diminui em muito as probabilidades de algo de errado acontecer, certo? Pois, talvez não. Alan (Zach Galifianakis) passa por um momento pessoal muito difícil e as suas habituais excentricidades não têm limites. Os seus amigos, Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms) – já sem a icónica tatuagem que adquiriu no filme anterior – e Doug (Justin Bartha, um mero figurante com algumas falas) resolvem ajudá-lo. Sem revelar muito mais sobre a história, velhos momentos do passado vão voltar e, claro, o inesquecível Mr. Chow (Ken Jeong) também, que nesta obra tem maior destaque. E como se trata do encerrar de uma trilogia, tudo o que se passou anteriormente fará agora sentido.

Justin Bartha, Zach Galifianakis, Ed Helms e Bradley Cooper em A Ressaca - Parte III. Foto: Beyond Hollywood.

Há, todavia, uma falha simbólica em A Ressaca – Parte III (2013): não há ressaca, perdendo-se aqui alguma da mística própria da saga. Por outro lado, tal poderia ser aproveitado para criar uma obra mais original e menos copiada da fórmula original, o que acaba por não verificar-se no seu todo. Algo se altera, com o aumento de destaque da personagem Alan, que é irreverente e cria momentos divertidos, mas acaba por não ter a força suficiente para segurar o filme sozinho. A realização de Todd Philips também não impressiona, apesar de não desiludir por completo.

Zach Galifianakis em A Ressaca - Parte III. Foto: Beyond Hollywood.

A química entre a “matilha” continua a funcionar às mil maravilhas, sendo este um dos elementos mais fortes da obra, aliás, de toda a trilogia. Mas tal não apaga o facto de parecer que começa a faltar alguma criatividade aos criadores de A Ressaca. O carácter politicamente incorrecto continua presente, mas os momentos de verdadeiro humor são mais escassos em relação ao primeiro filme da saga, que é, sem dúvida, o melhor e mais original de todos e este último filme só vem confirmar isso mesmo. É assim uma fórmula já algo desgastada, mas que parece finalmente encerrada. Mais do que criar algo único, esta última parte parece apenas preencher a vontade de fazer render ainda mais o filão alcançado pela “matilha” no primeiro filme. Uma das melhores cenas do filme acaba por ser a dos entre-créditos, que faz lembrar a loucura imprevisível e hilariante esperada na saga e que todos conhecem.

Bradley Cooper, Zach Galifianakis e Ed Helms em A Ressaca - Parte III. Foto: Beyond Hollywood.

Falta um toque inspiracional na obra, aquele que encantou um pouco por todo o mundo e que tornou A Ressaca uma das melhores comédias dos últimos anos. Ainda assim, não deixa de ser uma comédia que marca pela originalidade, muito diferente de muitas outras do mercado cinematográfico, com um elenco fantástico e fugindo das típicas piadas. A Ressaca – Parte III irá, porventura, agradar aos fãs, mas até esses se poderão sentir algo defraudados com este final de trilogia (pouco) épico.

(Crítica publicada na edição de Junho de 2013 da revista Metropolis).