'Guia para um Final Feliz'

As comédias românticas são aborrecidas, previsíveis e demasiado lamechas. Ou... talvez não. Guia para um Final Feliz (2012) mostra que para contar uma história de amor não é necessário seguir as regras habituais desse género de filmes e criar algo original e criativo. A obra de David O. Russell é divertida, mas longe de ser superficial. 

A história tem como protagonistas Pat (Bradley Cooper) e Tiffany (Jennifer Lawrence). Ele é bipolar e continua obcecado pela ex-mulher após ter estado alguns meses numa clínica de reabilitação mental. Ela é uma recém-viúva que tentou resolver a depressão ao ter algumas aventuras sexuais com os colegas de trabalho, o que não teve o resultado que esperava. Dizendo isto, até poderia tratar-se de um melodrama, mas nada disso. O modo como a história é contada muda esse panorama, mostrando o Guia que as personagens usaram para poder encontrar a ansiada felicidade, apesar dos obstáculos que vão aparecendo.

Bradley Cooper e Jennifer Lawrence em Guia para um Final Feliz. Foto: Out Now.
A narrativa é entusiasmante e o argumento é inexoravelmente reflexivo, pleno de paixões arrebatadoras e a descoberta do amor desconhecido, sobretudo para as próprias personagens.  As suas dores são retratadas com bom humor, sendo esta uma comédia romântica fora do normal, sem lamechices e previsibilidade imediata. A banda sonora contribui para o clima envolvente do filme, com uma realização cativante de David O. Russell, que, aliás, também escreveu o argumento, o que pode ter contribuído para a riqueza da história. 

E, claro, o elenco. Esta é, porventura, uma das grandes surpresas da obra e um trunfo inesperado. A dupla de actores revela uma interpretação fortíssima e uma química em cena que dá faíscas. Bradley Cooper, que estamos habituados a ver em filmes de pura comédia, como A Ressaca (2009), surpreende pela carga dramática que consegue incorporar na sua personagem, uma loucura tornada verosímil e comovente. Não lhe fica atrás Jennifer Lawrence, talvez mais conhecida pelos seus papéis em filmes de acção como The Hunger Games - Os Jogos da Fome (2012, crítica aqui) e X-Men: O Início (2011, crítica aqui) (apesar de ser reconhecida na indústria indie), ganha agora um papel de relevo, bem aproveitado pela actriz, que soube dar à protagonista o tom exacto e impactante que ela precisava. Estão ambos nomeados para os Oscars de Melhor Actor e Melhor Actriz, merecidamente. A fazer-lhes companhia está, também, Robert De Niro, que, como sempre, não desilude, atribuindo um brilho extra à obra, tal como Jacki Weaver.

Bradley Cooper, Jacki Weaver e Robert de Niro em Guia para um Final Feliz. Foto: Out Now.
Há uma beleza inexplicável em Guia para um Final Feliz, que nos faz encantar pelo filme, podendo ser um exemplo de como algumas histórias poderiam ser contadas. A obra é emocionante, enaltecedora da recuperação humana, provando que nem tudo está perdido, quando existe a vontade para mudar o rumo da própria vida. Sem dúvida, uma comédia romântica inesquecível.