Entrevista a Rob Schneider

Rob Schneider esteve em Portugal para o 2º Congresso Mundial do Sobreiro e da Cortiça, já que é o protagonista da campanha internacional desenvolvida pela Corticeira Amorim "Save Miguel". A Premiere aproveitou a visita e conversou com o actor norte-americano. 

Tem 47 anos e já participou em mais de 60 filmes. Como tudo começou? 
Queria evitar um trabalho mais a sério. Eu era o filho mais novo, o que fez com que me tornasse um entertainer para chamar a atenção. Os meus pais eram mais velhos e penso que me tornei assim para ganhar a atenção deles. Aprendi rapidamente que se fores engraçado, as pessoas sorriem e riem e divertem-se. Aprendi desde cedo que isto era uma coisa em que era bom e que queria fazê-lo para o resto da minha vida. 

E o que significou o "Saturday Night Live"? Quais são as principais memórias e qual é a importância do programa actualmente? 
Para mim, era um sítio onde me lembro de ficar muito cansado, porque passava lá cerca de 100 horas por semana. Lembro-me de pensar “bem, isto é espectacular, é o emprego que sempre quis ter e que agora consegui”. Contém uma forma e um estado de espírito particulares de comentar a realidade do país. A comédia é muito subversiva, tens uma ideia, podes comunicá-la através da comédia e fazê-la chegar às pessoas de um modo que nunca lhes chegaria. Penso que esta é uma das vantagens de ser um comediante. 

Qual foi a personagem mais importante da sua carreira? Poderei dizer Deuce Bigalow? 
Sim, Bigalow era popular, fez as pessoas rirem um pouco por todo o mundo e uma das coisas que me fez mais popular em todo o mundo. Mas sinto como se estivesse agora a começar. 

Rob Schneider em Gigolo Profissional (1999). Foto: kinobank.org.
Participa em alguns filmes de Adam Sandler e vice-versa. Como nasceu esta parceria? 
Éramos comediantes de stand-up comedy, por isso sempre quisemos tentar entrar no "Saturday Night Live". Era fantástico para nós, os nossos heróis de infância faziam parte desse programa, portanto era um sonho poder viver à custa dos risos das pessoas. Nunca tive um plano para a minha carreira. Provavelmente, tenho agora, pela primeira vez. 

E é o que quer fazer no futuro? Apenas comédias? 
Não, quero fazer histórias que sejam interessantes, não só de comédia. Fiz um drama, que também realizei, The Chosen One, que estou a tentar que seja lançado em todo o mundo. Retrata uma história interessante que eu quero contar e que quero comunicar. Penso que ser actor é uma profissão nobre, podendo transmitir verdades universais e foi-me impossível fazê-lo através da comédia. Ainda o acho fascinante e divertido. 

Como foi a experiência na realização? 
Faz perceber que o filme é um brinquedo do realizador, porque é ele quem controla tudo. Tem que se ter a certeza que se consegue fazer tudo porque fazer um filme envolve música, actores, design. É como um teatro em movimento, com os adereços, cabelo, maquilhagem, onde se pode criar um mundo. Dizem que se Shakespeare fosse vivo, seria um realizador de filmes. Acho que é verdade, é o derradeiro circo para alguém que quer contar uma história e eu sou uma dessas pessoas. 

Quer repetir a experiência? 
Quando se está motivado para acordar todas as manhãs e mal se pode esperar por começar, percebe-se que estamos arrebatados pelo que estamos a fazer. É algo que quero voltar a fazer, é um novo romance a cada novo filme. Quando está feito, deixo-o no passado. Às vezes, parte o teu coração, mas não trocaria por nada deste mundo. 

E o que é a "The Rob Schneider Music Foundation"? 
É uma fundação que pretende trazer de novo a música para as escolas. Infelizmente, a recessão económica nos EUA e no Mundo está fazer com que as crianças tenham de pagar pelas decisões erradas dos reguladores e bancos corruptos. Estamos a tentar fazer com que as crianças para além de ler, saber fazer contas e das aulas de história, possam também ter a oportunidade de fazer música. 

Os resultados têm sido positivos? 
Bem, tem havido estudos da Universidade de Oxford e de outras instituições que mostram que as crianças aprendem melhor com música. A música é uma matemática aliada às emoções. Quando ouves música, há uma memória emotiva ligada a ela. Não te lembras só da canção, mas também do sítio e com quem estavas quando ouviste a música pela primeira vez. É lindo. 

E toca algum instrumento? 
Não muito bem, mas toco trombone. Mas soube, desde muito cedo, que não ia ter sucesso com as raparigas com isso. Então, achei melhor tornar-me actor. 

Rob Schneider em Miúdos e Graúdos (2010). Foto: Beyond Hollywood.
Quais são os próximos projectos? 
Estou a fazer um filme de dança, que se chama Teach Me To Dance, e vou fazer alguns dramas. Estou à procura de algo mais dramático, mas ainda assim que me divirta. Mal posso esperar pela próxima aventura. 

Em breve vão ser lançados alguns filmes em que participa, inclusive de animação. Que desafios acarretam este tipo de produções? 
Sim, fiz alguns. Temos de trazer algo de vida sem a cara, mas apenas com a voz. Enquanto actor, o corpo e os olhos são as ferramentas mais importantes de que se dispõe. A voz também é importante mas há muito mais nos olhos. A comédia é um género muito particular, em que não há problema de se ser um pouco mais extremo, dependendo apenas dos gostos de cada um. Algumas das minhas coisas do princípio de carreira, não sei se as faria agora, porque os meus gostos mudaram. 

Por exemplo? 
Algumas coisas do princípio em que não sabia mesmo qual era o meu estilo e que, infelizmente, só se descobre com a prática. O que não significa que será necessariamente bom, mas com suficientes oportunidades, pode-se melhorar. Penso que tive grandes oportunidades no meu trabalho e na minha vida. 

Já conhecia Portugal? 
Conheço um pouco Lisboa, a feijoada, os vinhos do Douro. É um país fantástico, é difícil de imaginar que um país seja tão elegante, bonito, pacífico e que ao mesmo tempo tenha um passado de conquistadores e de pessoas tão intolerantes. Por exemplo, o Vasco da Gama era brutal. O declínio de um Império é quando a cultura de um povo se sobressai. Espero que isso aconteça com os EUA. 

Qual foi o aspecto que mais gostou no nosso país? 
A tranquilidade de Lisboa, a proximidade com a água, o facto de não ser uma cidade que deseja mais do que é. A comida centenária, como a feijoada, uma cultura profunda, especialmente para mim que venho de um país muito jovem e naif. Penso que as pessoas em Portugal têm a ideia exacta daquilo que é importante: comida, vinhos, conversas, cultura interessante, arte, design. Não mudem isso que eu gosto muito.

(Entrevista publicada na revista "Premiere", de Novembro de 2011).